quarta-feira, 20 de julho de 2011

Qualidade da água de rios próximos de regiões metropolitanas é ruim ou péssima, segundo relatório

Luana Lourenço, da Agência Brasil


A maioria dos rios, lagoas e reservatórios com água em condições de qualidade ruim ou péssima está próxima a regiões metropolitanas. O diagnóstico está no relatório Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil – Informe 2011, divulgado nesta terça-feira (19) pela Agência Nacional de Águas (ANA).

De acordo com dados coletados em 2009, a maior parte dos corpos d’água com Índice de Qualidade da Água (IQA) péssimo ou ruim fica nas proximidades das regiões metropolitanas de São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, do Rio de Janeiro, de Salvador e de cidades de médio porte, como Campinas (SP) e Juiz de Fora (MG). “Essa condição está associada principalmente aos lançamentos de esgotos domésticos”, constata o relatório.

Dos 1.747 pontos monitorados em 17 estados, 2% têm condições péssimas e 7%, condições ruins. A avaliação é feita com base em nove parâmetros, que refletem principalmente a contaminação por esgoto doméstico. Entre 2008 e 2009, percentual de pontos com índice de qualidade considerada ótima caiu de 10% para 4%.

No geral, o cenário se manteve estável: em 2008, 70% de pontos tinham condições boas, em 2009 o percentual foi 71%. “O diagnóstico dos pontos monitorados revela a manutenção do quadro geral do país, com várias bacias comprometidas devido ao grande lançamento de esgotos urbanos domésticos”, aponta o estudo.

Apesar da concentração da água de má qualidade nas bacias próximas a grandes centros urbanos, a ANA considera que houve avanços pontuais em alguns casos, diretamente ligados a investimentos em saneamento e tratamento de esgoto.

“Há uma clara associação entre investimentos em tratamento de esgotos e melhoria da qualidade da água. É necessário continuar fazendo investimento nesse setor”, avalia Alexandre Lima Figueiredo, da Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos da agência.

De acordo com o levantamento, houve melhoria no IQA nas bacias do Rio das Velhas e do Rio Paraíba do Sul, além das dos rios Piracicaba, Sorocaba e Grande.

Segundo o estudo, entre 2005 e 2009 houve aumento dos repasses para o tratamento de esgoto, principalmente por meio do chamado PAC do Saneamento. No entanto, apesar do crescimento da receita para o setor, os R$13,2 bilhões executados em projetos de saneamento em 2009 representam menos de 60% do total necessário para solucionar os problemas.

“As políticas de saneamento estão dando resultados na melhoria de qualidade de água, mas ainda temos grandes investimentos a fazer”, disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Ela chamou a atenção para outro número do relatório da ANA: o percentual de água utilizado para irrigação. Os números mostram que 69% do recursos hídricos em uso no país vão para as lavouras e pastos. “E mais de 90% disso vão para o setor privado. Temos que ver se essas áreas de irrigação estão em áreas vulneráveis de oferta de recursos hídricos no futuro para que se possa assegurar a produção agrícola com oferta de água ou se será preciso redirecioná-las.”

A ministra ainda vinculou o futuro dos recursos hídricos à discussão do novo Código Florestal, que está sob avaliação do Senado. “Não estamos discutindo somente regularização do uso do solo [no Código Florestal], mas também a qualidade de vida e disponibilidade de recursos hídricos”, disse, ao relacionar a preservação de matas ciliares à garantia de disponibilidade de água.

Fonte: MercadoEtico/Agência Brasil

Licenciamento Ambiental: um mundo de entraves.

Por Ivan Dutra Faria*

No Brasil, há uma percepção negativa do processo de licenciamento ambiental. Essa é uma visão razoavelmente difundida na sociedade. Há dois limites de percepção muito bem definidos, antípodas no amplo espectro de discussões. Para alguns segmentos da sociedade, trata-se de um gargalo, um obstáculo, um desestímulo aos grandes investimentos em infraestrutura e, por conseguinte, um bloqueador da geração de emprego e renda.

Para outros segmentos, o licenciamento é um processo corrompido, por meio do qual o capitalismo impõe a sua vontade, compra consciências e, no limite, devasta o ambiente. No intervalo entre esses extremos, grassa a desinformação e, pior, o desinteresse pelo aprimoramento do mecanismo.

Essas visões extremadas – muitas vezes, simplistas e, às vezes, mal-intencionadas – não se sustentam. A demora na expedição das licenças não deve ser entendida como parte de um processo deliberado de conter o desenvolvimento, assim como a emissão desses documentos não deve ser vista como o resultado de práticas de aliciamento e corrupção.

Na realidade, são múltiplas as principais causas desses problemas, interligadas entre si. Podemos citar:
• a baixa qualidade dos estudos ambientais elaborados para a obtenção das licenças;
• as dificuldades inerentes aos procedimentos de previsão de impactos;
• a visão cartorial do processo de licenciamento;
• as deficiências nos processos de comunicação com a sociedade;
• as falhas do modelo de realização de audiências públicas;
• os conflitos políticos internos aos órgãos do setor ambiental;
• a politização dos cargos gerenciais do setor público, com reflexos sobre a qualidade da gestão;
• a sobreposição de funções entre órgãos públicos;
• a baixa capacitação técnica para analisar, com a requerida qualidade, as informações prestadas nos relatórios preparados pelos empreendedores requerentes de licenças;
• o aumento da influência de argumentos subjetivos e ideológicos;
• a indefinição das competências legais de cada nível de governo (União, estados e municípios);
• a judicialização do processo decisório, motivada, principalmente, pelas ações do Ministério Público e pela fragilidade legal das resoluções do Conama que embasam a tomada de decisão no setor, abrindo espaço para contestações judiciais; e
• a exigência e imposição política de avaliação rápida de projetos prioritários.

Essas são algumas das principais causas dos cada vez mais frequentes bloqueios e atrasos de investimentos, muitos deles com impactos ambientais plenamente compensáveis ou mitigáveis. Por outro lado, também é comum a imposição política de avaliações intempestivas – e, por isso, superficiais – em projetos considerados como de alta prioridade, mas que podem resultar em severos danos ambientais.

A normalização do setor é feita por resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão consultivo e deliberativo vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). O efetivo destravamento do licenciamento passa pela edição de lei que substitua matérias hoje reguladas por meio de resoluções do Conama.

Este texto visa à discussão dos problemas acima descritos, identificando suas causas, apontando suas consequências e, quando for o caso, apresentando soluções de encaminhamento da questão no Congresso Nacional.

* Ivan Dutra Faria é mestre e doutor em Política, Planejamento e Gestão Ambiental. Consultor Legislativo do Senado Federal, do Núcleo de Economia, área de Minas e Energia

Fonte:AmbienteEnergia.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Licenciamento ambiental é modernizado

Projeto do Ibama em parceria com o Pnud ajuda órgão federal a atender a demanda que triplicou nos últimos 7 anos com o PAC.

O processo de emissão de licenças ambientais federais para obras de infraestrutura, cuja demanda cresceu substancialmente nos últimos anos devido à implantação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), está mais moderno e, conseqüentemente, mais ágil e eficiente. Nos últimos sete anos, a demanda por licenciamento ambiental junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) triplicou, segundo o órgão. Em 2010, um total de 1.675 processos tramitava à espera de autorização. Desse total, 20% eram demandas de empreendimentos integrantes do PAC.

Para desempenhar com eficiência esse crescente acúmulo de atividades sem perder de vista as diretrizes estratégicas de sustentabilidade ambiental, o Ibama firmou uma parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Dentre as ações implementadas, destacam-se a criação do Centro de Licenciamento Ambiental Federal, hoje transformado em diretoria, e a implantação de 27 núcleos de licenciamento ambiental, instalados junto às superintendências do Ibama nos estados. Esses núcleos facilitaram a desconcentração das ações de licenciamento e aumentaram a eficiência do órgão nessa atividade.

“O projeto contribuiu bastante para a implantação e o desenvolvimento de tecnologias voltadas ao licenciamento ambiental, uma atividade relativamente nova no país”, avalia Alexandre Brasil, oficial de programas do Pnud. Só de janeiro de 2010 a maio de 2011, foram emitidos 653 atos autorizativos, que incluem licenças prévias, licenças prévias de perfuração, licenças de instalação, licenças para pesquisa sísmica, licenças de operação e autorizações. A agilidade conquistada no processo, segundo o coordenador, foi fundamental para que o país avançasse no seu propósito de aliar desenvolvimento e sustentabilidade.

As áreas beneficiadas pelo licenciamento – energia elétrica, dutos, transportes, mineração, obras civis e petróleo e gás – também refletem as demandas geradas pelo PAC. Além disso, exigiram do Ibama especialidades que os profissionais do Instituto não tinham, como análise de risco, geotecnia, geologia do petróleo e hidrologia. Foi nesse aspecto que o projeto de cooperação auxiliou, ao fornecer consultoria e capacitação técnica através da contratação de profissionais habilitados.

Serviços online

Outra ação decorrente do projeto resultou na criação de um sistema de gestão da informação, materializado na construção de um website dedicado ao processo de licenciamento ambiental. Com isso, diversos serviços e informações passaram a ser disponibilizados online, facilitando também o acompanhamento do andamento dos processos pela internet.

O sistema possui três interfaces: a área pública, via website do Ibama, que disponibiliza informações gerais e específicas sobre o andamento dos processos de licenciamento (incluindo visualização do empreendimento e de documentos); a área de trabalho do empreendedor, que permite acompanhar o processo, solicitar licenças, acessar documentos e licenças/autorizações, enviar e emitir boletos; e a área restrita aos técnicos e gestores do licenciamento, que permite a inclusão de documentos elaborados, atualização de processos, inclusão de editais de audiências públicas e outros documentos pertinentes ao procedimento.

Esse sistema atua como instrumento de articulação entre o governo, a sociedade e os empreendedores, dá transparência ao processo de licenciamento ambiental federal e serve como fonte de informações atualizadas sobre o licenciamento.


Fonte: Envolverde / Publicado originalmente no site do Pnud.

Crianças e idosos são vítimas frequentes da dengue

Apesar de qualquer pessoa, de qualquer faixa etária, estar sujeito a contrair dengue, crianças e idosos têm sido vítimas frequentes da doença. Das 310 mortes registradas no primeiro semestre deste ano, 73 foram de doentes com menos de 15 anos de idade (23,5%). Dos 8.102 casos graves no mesmo período, foram identificados 2.794 em crianças e adolescentes (34%). E, desde 2008, pelo menos 25% dos pacientes internados em decorrência da dengue têm menos de 15 anos de idade.

Segundo o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Jarbas Barbosa, essa tendência é resultado da recirculação de alguns tipos de vírus da dengue, como o sorotipo 2. Ele explica que as crianças não tiveram contato com esses vírus no passado e, por isso, são mais vulneráveis a contrair a doença. “Os adultos tiveram contato com o vírus e ficaram protegidos, as crianças não. Assim, os casos entre crianças aumentam proporcionalmente a queda entre os adultos”, disse à Agência Brasil.

Como os sintomas da dengue são semelhantes aos de outras viroses, fica mais difícil diagnosticar a doença no estágio inicial. Segundo os médicos, a falta de diagnóstico precoce acaba favorecendo o desenvolvimento da forma grave da dengue nas crianças e adolescentes. “Não é fácil a identificação da dengue no início. O paciente pode apresentar um processo viral inespecífico, como o de uma gripe”, explicou Paulo Cesar Guimarães, integrante do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Para evitar mortes de crianças e complicações decorrentes da doença, o ministério decidiu distribuir um guia aos profissionais de saúde para que aumentem os cuidados com quem apresenta sintomas de dengue. Um dos alertas é para os sinais de agravamento da doença nas crianças. “Na criança, o início da doença pode passar despercebido e o quadro grave ser identificado como a primeira manifestação clínica. O agravamento, em geral, é súbito, diferente do que ocorre no adulto, que é gradual, com os sinais de alarme de gravidade mais facilmente detectados”, diz o manual. Alguns dos sintomas mais comuns são febre, dores e manchas vermelhas pelo corpo.

Na comparação com os primeiros seis meses de 2010, o secretário Jarbas Barbosa informou que houve queda do número de mortes e de casos graves entre crianças e adolescentes. Entre as mortes, a redução foi cerca de 35%, de 111 em 2010 para 73 este ano. Nos casos graves, a diminuição equivale a aproximadamente 30%, de 4.002 em 2010 para 2.794 nos primeiros seis meses de 2011.

Assim como as crianças, os idosos também sofrem com a dengue. Sem informar dados específicos dessa faixa etária, Barbosa disse que o número de casos graves e mortes relacionadas à doença tem crescido entre os mais velhos desde o ano passado. “O idoso tem uma doença cardíaca ou diabetes grave. A dengue pode descompensar essa outra doença que o idoso tem”, explicou o secretário.

De acordo com Barbosa, os idosos apresentam quadro de saúde mais debilitado e muitos contraem a doença mais de duas vezes ao longo da vida, o que eleva o risco de desenvolver a forma hemorrágica. Quanto mais vezes a pessoa contrair a doença, maior a chance de desenvolver as formas mais agressivas da dengue.

O último balanço nacional da doença, divulgado no dia 6 de julho, mostrou queda de 18% nas notificações de dengue no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2010. De janeiro a julho, as notificações somaram 715.666. As mortes e os casos graves também tiveram redução de 44% e 45%, respectivamente.

Fonte:AmbienteBrasil/Carolina Pimentel - Agência Brasil)

Comitê aprova regras que facilitam entrada no MDL

Duas novas metodologias foram adotadas na última reunião do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo visando promover a inclusão de mais nações na ferramenta, que promete combater as mudanças climáticas e possibilitar o crescimento sustentável.

A ONU criou o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) sob o Protocolo de Quioto para estimular países pobres e emergentes a promover ações de redução de gases do efeito estufa em troca de créditos que são negociados nos mercados de carbono. Acontece que esta ferramenta sempre sofreu criticas por ser muito burocrática e complexa, prejudicando a multiplicação de projetos.

Um sinal claro disso é a concentração geográfica dos projetos aprovados, a maioria na China e Índia, nações com mais infraestrutura e tecnologia que todos os países africanos, por exemplo.

Em mais uma tentativa para solucionar esse problema, o Comitê Executivo do MDL, que esteve reunido na última semana no Marrocos, aprovou a adoção de duas novas metodologias que prometem facilitar o acesso das nações mais pobres e vulneráveis ao esquema.

“As mudanças devem deixar o caminho livre para a aprovação de projetos de países mais pobres. A esperança é que assim os benefícios do MDL cheguem a quem mais precise deles”, afirmou Martin Hession, presidente do Comitê.


No entanto, a reunião terminou sem uma decisão sobre as regras para projetos de “carvão eficiente”, que vêm sendo atacados por poderem levar a geração de milhões de créditos de carbono sem fundamento.


Simplificação



A primeira metodologia aprovada pelo Comitê permite que os países calculem bases padronizadas para setores inteiros da economia e então pré-aprovem tecnologias de redução de emissões que automaticamente se qualifiquem como projetos de MDL.

Um exemplo seriam os fornos eficientes que substituem os tradicionais fornos a lenha, que provocam desmatamento desnecessário e emissões de gases do efeito estufa. Esse tipo de tecnologia poderá agora ser pré-aprovada e, assim, projetos que a utilizem terão mais facilidade para ingressar no MDL.

Analistas preveem que permitir a qualificação de tecnologias automaticamente trará grandes impactos ao mecanismo, possibilitando que os desenvolvedores consigam reunir investimentos de uma forma mais fácil uma vez que os projetos já estarão a caminho da aprovação.

A segunda metodologia permitirá que sejam utilizadas as projeções de emissões do business-as-usual (negócios de sempre) como base para que os projetos estipulem as reduções que alcançarão.

Assim, por exemplo, um projeto que instale uma central de tratamento de água em um país que não possua instalações de tratamento poderá receber créditos. É diferente do que era obrigatório antes, quando era preciso mitigar os impactos de “tecnologias sujas”.

Antes mesmo dessas duas metodologias serem aprovadas, já havia sido registrado um aumento no número de projetos ingressando no MDL. Segundo o UNEP/Risoe, 169 projetos entraram no processo de aprovação (pipeline) em junho, número apenas superado por julho de 2007 e outubro de 2008.

Também de acordo com o UNEP/Risoe, os atrasos na aprovação dos projetos de MDL estão diminuindo rapidamente, com o tempo médio desde o início até o registro caindo de 700 dias em 2008 para cerca de 230 atualmente. A média para todos os projetos registrados é de 522 dias.

Esses avanços são muito importantes para a evolução do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, mas as incertezas sobre o futuro do Protocolo de Quioto ainda preocupam e pode ser que todo esse trabalho recente de popularizar a ferramenta seja perdido se os governos não conseguirem estender o tratado para além de 2012.

Fonte:CarbonoBrasil

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Usos de Água no Brasil

Por Roberto Naime

O Brasil tem vocação eminentemente agropoecuária. O denominado “agribusiness” não encontra outro local com tanta vocação natural de uma nação, dos recursos pedológicos, climáticos e hídricos. Logo, mais do que em qualquer outra área, é nossa função preservar os recursos hídricos em condições de exercerem ações sinérgicas com os demais fatores para a preservação da alta produtividade e competitividade neste setor.

A água tem uso na indústria, mas o Brasil tem vocação agropecuária e o uso na agropecuária, para irrigação de culturas e dessedentação e higiene nas criações extensivas ou intensivas de espécies de pecuária tradicional ou avinocultura e suinocultura, ainda é o principal uso da água. Este uso tem sido ampliado e muito desenvolvidos em grande escala nas últimas décadas no país, que é um dos grandes atores no comércio e oferta mundial de proteínas.

Os maiores riscos nesta área estão na falta de adequado tratamento e disposição de resíduos de várias espécies, principalmente aves e suínos, responsáveis por degradação de mananciais hídricos superficiais e poluição de aqüíferos subterrâneos.

Os dejetos de suínos, por exemplo, produzem índices de DBO (Digestão Biológica de Oxigênio) que chegam a ser dez vezes superiores aos dos excrementos humanos. Vale dizer, 10 vezes mais poluentes ou impactantes.

O uso maciço das águas em irrigação também pode trazer conflitos no gerenciamento de bacias hidrográficas. O uso indiscriminado de pesticidas, herbicidas e fungicidas, polui os solos, sendo solubilizados pela água, que acaba transportando e ampliando a contaminação para as drenagens superficiais e mananciais hídricos subterrâneos.

Por isso, talvez fosse aconselhável, que as ações de licenciamento fossem mais voltadas a atividades pedagógicas e de extensão rural, do que propriamente a ações burocráticas ou punitivas.

Está chegando o momento do país discutir e implantar esta nova concepção de forma efetiva, eficiente e eficaz. Sob pena de comprometer seus recursos e a própria função dos mesmos na obtenção de resultados que favoreçam o país e atinjam sua plena consecução.

Outro uso que merece discussão é a geração de energia elétrica. Primeiro a questão das grandes barragens. Seria ambientalmente muito mais sustentável, a construção de pequenas e médias barragens, em quantidade muito maior. Estas intervenções geram menores lâminas de água nos depósitos de acumulação, atingem menos áreas e menor quantidade de pessoas, produzem impactos ambientais muito mais reduzidos sobre os meios físico e biológico, e eventualmente ainda contam com descargas de fundo, capazes de manter a capacidade de acumulação hídrica com o decorrer do tempo.

O fato é que temos uma tradição em grandes barragens, com todas as conseqüências, e não temos trabalhado suficientemente na mudança conceitual, na alteração de paradigmas e padrões, que mais cedo ou mais tarde serão impostos pelo consenso social.

Os corpos de água são usados também para o lançamento e despejo de esgotos urbanos, tratados ou não e efluentes industriais dos mais diversos tipos, dentro de padrões aceitáveis ou não. O comportamento dos corpos de água com os despejos varia em função de suas características físicas, químicas e biológicas e da natureza das substâncias lançadas.

Outro uso antrópico que deve ser citado é o transporte de cargas e passageiros por via fluvial, lacustre ou marítima. A navegação pode causar perturbações ambientais, ao despejar substâncias poluidoras das embarcações, de modo deliberado ou acidental. Também pode necessitar produzir alterações de morfologia ou velocidade de corrente, com impactos ambientais.

O equilíbrio ecológico do meio aquático deve ser preservado, qualquer que sejam os usos que se faça dos recursos hídricos. Por isso, monitoramentos e sistemas de controle devem ser incentivados e implantados para que a água nunca contenha substâncias tóxicas além das concentrações críticas para os organismos aquáticos.

Por último, merecem ser citados os usos dos recursos hídricos para aqüicultura, ou, seja a criação de organismos aquáticos com finalidade econômica e a utilização para recreação humana.

Atualmente, com o gerenciamento de bacias hidrográficas, cresce a necessidade de compatibilizar todas estas demandas.


Fonte: EcoDebate

terça-feira, 12 de julho de 2011

Futuro promissor na área de saneamento

Publicado por Maurício Oliveira | Para o Valor, de São Paulo / Aesbe


Uma antiga máxima da política diz que obras de saneamento não dão votos, já que ficam embaixo da terra e não são vistas pela população no dia a dia, ao contrário do que ocorre com viadutos, escolas e postos de saúde. Talvez esteja aí parte da explicação para o descaso que o setor enfrentou no Brasil nas últimas décadas. De acordo com resultados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad), 47,6% dos domicílios brasileiros ainda não estão ligados à rede coletora de esgoto e 17,7% nem sequer têm acesso a abastecimento de água tratada.

Na fase de crescimento econômico que o Brasil atravessa, contudo, há cada vez mais o consenso de que a universalização dos serviços básicos de saneamento é um objetivo primordial para que o país possa a vir a ser classificado como nação desenvolvida. Diante desse cenário, a expectativa é que oportunidades de carreira surgirão na mesma proporção da esperada ampliação dos investimentos.

A gestão do saneamento permaneceu por muito tempo sendo feita quase que exclusivamente por engenheiros, reflexo do longo período de estagnação que o setor enfrentou. "Essa situação está mudando com a chegada de profissionais de diferentes formações", diz a presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Cassilda Teixeira.

Dissemina-se no mercado a visão de que, para ser um bom gestor de saneamento, é preciso entender acima de tudo de prestação de serviços, e nem tanto das particularidades técnicas das obras.

"Os engenheiros podem até sair na frente na compreensão mais ampla do setor, mas é essencial que busquem conhecimentos sólidos de gestão. Essa é uma das grandes lacunas até agora", ressalta Edison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, ONG que atua no setor.

Profissionais que podem ser classificados como "pioneiros" dentro dessa nova forma de enxergar o saneamento já estão colhendo os frutos da escolha. Um exemplo é o diretor técnico da CAB Ambiental, Giuliano Vito Dragone, 37 anos.

Formado em engenharia química, ele trocou há cinco anos o cargo de gerente de engenharia e manutenção das canetas Bic pelo desafio de integrar a equipe que montaria o plano de negócio do braço do grupo Galvão na área de saneamento.

Depois de fazer MBA em gestão financeira e se especializar em processos de saneamento pelo Office Internacional de L'Eau, na França, referência na área, Dragone está no comando de quase 700 funcionários espalhados por operações em 13 cidades de São Paulo, Paraná e Mato Grosso. "Fiquei surpreso ao constatar como o setor de saneamento é apaixonante e cheio de perspectivas", diz o executivo. A empresa projeta 40% de acréscimo no faturamento este ano, chegando a R$ 140 milhões. Se tudo correr conforme o planejado, outros 700 colaboradores serão recrutados até o final do ano que vem, incluindo profissionais das mais diferentes áreas.

Quando precisou recrutar mais gestores, a CAB Ambiental quebrou alguns paradigmas do setor, como a falta de mulheres em posições de comando. Para a diretoria financeira e de relações com investidores contratou Daniela Pinho, formada em administração com foco em marketing, e colocou à frente da gestão de pessoas Rita Maeji, graduada em psicologia organizacional.

Para cargos regionais, buscou profissionais com o perfil de Eduardo Caldeira, 40 anos, também formado em engenharia química, mas com pós-graduação de administração industrial na Fundação Vanzolini e MBA em gestão de projetos na Fundação Getulio Vargas. "Eu não tinha experiência em saneamento, mas já havia trabalhado em uma concessão de gás natural. Existem muitos paralelos entre as duas situações", descreve Caldeira.

Hoje, coordenando os trabalhos da empresa em quatro municípios do interior paulista - Mirassol, Palestina, Andradina e Castilho -, ele ganha um salário 30% superior ao do emprego anterior e enxerga horizontes cada vez mais promissores. "Quando esse mercado entrar em maior evidência, terei acumulado uma boa bagagem para assumir maiores responsabilidades."

Um dos aspectos mais instigantes da carreira de gestor em saneamento é que, com exceção de algumas empresas já bem estruturadas nos principais estados, em muitos aspectos o setor está quase que inteiramente a ser desbravado. "Todo o atraso que o saneamento vive é reflexo dos anos em que a iniciativa privada permaneceu afastada", diz o coordenador do mestrado executivo em gestão de empresas da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), Marco Tulio Zanini. Um exemplo são os departamentos de recursos humanos.

Na maior parte das empresas de saneamento eles permanecem muito mais atrelados à mera administração de contratos de trabalho do que empenhados na construção de relacionamentos de longo prazo com os colaboradores, com base em pacotes de benefícios atraentes e oportunidades de crescimento.

O planejamento financeiro é outra área estratégica para as empresas do setor, pois as concessões se estendem por prazos longos e exigem um alto investimento inicial. Os departamentos de pesquisa e desenvolvimento, sustentabilidade e relacionamento com os clientes também deverão ganhar importância.

Com a maior atenção destinada ao setor, começam a se multiplicar as possibilidades para quem pretende se especializar em saneamento no Brasil. O Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Sindcon) tem um projeto de capacitação de profissionais que está em fase de desenvolvimento e a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) acaba de estabelecer uma parceria com a Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para um curso de especialização na área.

Além disso, há cursos de pósgraduação em saneamento em importantes instituições públicas de ensino superior, como o Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade de São Paulo (USP), o campus de Bauru da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Universidade Federal de São Carlos, a Universidade de Brasília (UnB) e as Universidades Federais do Mato Grosso (UFMT), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de Minas Gerais (UFMG).


Instituições privadas, como as Faculdades Logatti (em Araraquara, SP) e a Faculdade Leão Sampaio (em Juazeiro do Norte, CE), oferecem cursos mais voltados à gestão. Para acompanhar esse movimento, há no mercado a expectativa de que as melhores escolas de negócios do país desenvolvam MBAs em saneamento nos próximos anos.

Fonte:Tratamentoagua

Otimização do Uso de Recursos Hídricos

Por Roberto Naime


A água é encontrada no estado líquido, constituindo-se em recurso natural renovável por meio do ciclo hidrológico. Os recursos hídricos são caracterizados em função de sua quantidade e qualidade, estando estas características intimamente relacionados, pois a qualidade da água depende diretamente da quantidade existente para dissolver, diluir e transportar as substâncias que serão aproveitadas nas cadeias alimentares (Braga et al., ENGENHARIA AMBIENTAL, 2004).

O total de água doce explorável sob o prisma tecnológico e econômico, representa menos de 0,5% do total da água disponível (Braga et. al., ENGENHARIA AMBIENTAL, 2004).

A alteração da qualidade da água agrava o problema da escassez. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que 25 milhões de pessoas no mundo morrem anualmente em função de doenças transmitidas pela água, como cólera e diarréias.

A água é uma das raras substâncias inorgânicas a se apresentar no estado líquido nas chamadas Condições Normais de Temperatura e Pressão. A densidade da água diminui com o aumento da temperatura e também é afetada pelos sais e demais substâncias químicas dissolvidas.

A água apresenta calor específico bastante elevado e por isso pode tamponar a temperatura, absorvendo ou liberando diferentes quantidades de calor. Por isso as variações de temperatura nos meios aquáticos costumam ser brandas.

Outra característica física muito importante da água é a viscosidade. Isto permite que organismos mais densos, como as algas permaneçam flutuando devido à força de atrito entre a sua superfície e a água.

A cor e a turbidez também são características físicas importantes na regulação, pois permitem controlar a entrada de luz no meio aquático. A cor pode ser real ou aparente. A cor real está associada a substâncias dissolvidas na água e pode afetar a penetração de luz.

Este é o caso do rio Negro, afluente do Amazonas, cujas águas apresentam coloração escura devido à presença de ácidos húmicos dissolvidos nas águas.

A cor aparente do meio aquático está associada a reflexos originados na paisagem adjacente ou referenciados com a cor de seu fundo, se o mesmo se encontrar visível.

Uma última característica física notável é a polaridade. Cada molécula no meio líquido sofre e exerce atração elétrica das moléculas ao seu redor. Este fenômeno é responsável pela geração da tensão superficial da água, que constitui o “habitat” de muitas espécies de pequenos organismos.

Os detergentes podem enfraquecer esta película e alterar profundamente as populações de microorganismos.

A principal característica química da água é a sua propriedade de solvente universal, capaz de dissolver um grande número de substâncias orgânicas e inorgânicas, que podem ser essenciais para a sobrevivência de organismos aquáticos.

A presença de oxigênio dissolvido, dentre outros gases, é fundamental para que ocorram vida e fotossíntese no meio aquático. Peixes respiram oxigênio retirado das águas através das brânquias. Os monitoramentos ambientais devem enfatizar o controle do oxigênio dissolvido, além de características físicas e químicas básicas. Pois boa parte dos acidentes ambientais em rios de bacia hidrográficas importantes no país ocorre porque a poluição por esgotos ou efluentes industriais retira o oxigênio necessário para a respiração dos peixes.

Havendo condições físicas e químicas apropriadas a água desenvolve uma importante associação biológica, constituindo cadeias alimentares compostas por produtores e consumidores de várias ordens e decompositores. O meio aquático hospeda vírus, bactérias, fungos, algas, macrófitas, protozoários, rotíferos, insetos aquáticos, vermes, moluscos, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.

Dentre estes, a avaliação dos microrganismos presentes é de extrema importância para caracterização da qualidade dos recursos hídricos superficiais ou subterrâneos.

As águas são fundamentais para a vida. Por isso torna-se desnecessário enfatizar sua importância. Cerca de 70% do volume total do corpo humano é formado por água, e esta proporção varia nos demais seres vivos.

O uso mais nobre da água é o abastecimento humano. A qualidade de vida das populações humanas está diretamente vinculada com a oferta e qualidade de água, que é usada para higiene pessoal, preparo de alimentos e outros usos como irrigação de jardins, lavagens de veículos e pisos e usos cotidianos diversos.

Fonte: EcoDebate

Relatório analisa consciência ambiental de empresas

Embora a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos estejam ganhando a atenção da indústria nos últimos anos, muitos setores ainda parecem desconsiderar os riscos e oportunidades associados com a preservação da natureza.

Para satisfazer os exageros de consumo dos habitantes do planeta, empresas abusam dos recursos naturais de forma irracional e a cada dia nos aproximamos mais de uma crise que será provocada pela escassez de matérias-primas e serviços ecossistêmicos. Para tentar evitar esse cenário, ou ao menos se adaptar a ele, algumas companhias já estão desenvolvendo estratégias de conservação de biodiversidade e dos serviços ambientais (BES).

Entretanto, uma pesquisa intitulada Sustainable Insight – The Nature of Ecosystem Services Risks for Business (Visão Sustentável – A natureza dos riscos de serviços ambientais para empresas), revela que embora a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos tenham entrado em pauta nos últimos anos, muitos setores ainda não estão cientes da importância dessa questão, seja ambiental ou financeiramente.

O relatório, publicado recentemente pela consultoria KPMG, pela Flora & Fauna Internacional (FFI) e pela Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA IF), sugere que mesmo empresas de setores que estão sempre em contato com questões ambientais, como o da extração, da construção, do agronegócio e mesmo das finanças, não desenvolvem estratégias de preservação de BES.

Com isso essas companhias estão sujeitas a riscos dos mais variados tipos, que o estudo classifica como: riscos de reputação, regulamentares, operacionais, de responsabilidades jurídicas e sistêmicos. Segundo a pesquisa, esses riscos podem afetar a firma não só economicamente, mas também na sua imagem e credibilidade.

“A estabilidade financeira pode já ter sido afetada por fenômenos ambientais que se manifestam através de falhas e riscos no contexto da perda e degradação de ecossistemas”, declarou a PNUMA IF.

Neste panorama, a análise, que baseia em dados de estudos anteriores, não mostra dados muito positivos. Conforme a pesquisa, apenas 48% das empresas fazem avaliações de riscos e oportunidades em relação à BES. O relatório também aponta que os setores que apresentam maiores riscos à BES, tanto em termos de impacto quanto na maturidade em administrar a questão, são o alimentício, o de gás e petróleo e o de mineração.

No entanto, o estudo apresenta algumas informações que indicam que esse cenário tem potencial para mudar. Segundo a pesquisa, 44% dos executivos concordam que a sustentabilidade é uma fonte de inovação, e 39% veem a sustentabilidade como uma fonte de novas oportunidades comerciais.

Para combater os riscos relacionados à BES, o documento sugere que as firmas sigam algumas recomendações de ação corporativa, como identificar os impactos e dependências da empresa em relação à BES; analisar os riscos associados a esses impactos e dependências; desenvolver sistemas de informação e relatar resultados ligados a BES; tomar atitudes para evitar, minimizar, mitigar e compensar riscos a BES, entre outras.

Herman Mulder, diretor do grupo de gestão de riscos ABN-AMRO acredita que “as três principais áreas de interesse das empresas para identificar riscos relacionados à biodiversidade e aos serviços ambientais dizem respeito: 1) à necessidade das companhias de evitarem a pressão de mercado a curto prazo para considerarem um horizonte de longo prazo; 2) criar compromissos coletivos para essa questão; 3) gerar preferência no consumidor e refletir isso no valor da marca da sua companhia”.

“Deveria haver melhores informações e divulgação para mitigar os riscos dos investidores. As companhias que estão catalogadas nas nossas principais bolsas de valores deveriam ser, no mínimo, obrigadas a relatar como elas são dependentes dos serviços ambientais e como elas estão impactando esses serviços”, declarou Courtney Lowrance, diretora de gestão de riscos ambientais e sociais do Grupo Citi, no relatório.

Já Matt Hale, do Bank of America Merrill Lynch, recomenda que uma metodologia, ou uma série delas, sejam estabelecidas para medir os riscos de biodiversidade e de serviços ambientais das empresas. “Até lá, será difícil para as companhias desenvolverem formas de lidar ou compensar esses riscos”.

O estudo indica que caso as empresas optem por administrar esses riscos, estes poderão ser convertidos em oportunidades, como a diferenciação no mercado, a entrada em mercados ambientais e mercados para produtos certificados, abastecimento sustentável e contínuo etc.

Alguns exemplos de companhias que adotaram tais estratégias e se diferenciaram no mercado são apresentadas na pesquisa. Um dos exemplos é o da Natura, firma brasileira de cosméticos, que desenvolveu toda uma linha de produtos que utiliza sustentavelmente sua matéria-prima, ganhando diferenciação no mercado.

Outro exemplo citado no relatório é o da empresa de alimentos Häagen-Dazs, que desenvolveu projetos e campanhas de marketing alertando para a ligação entre a polinização, o mel e o desenvolvimento dos ingredientes de seus produtos, e assim também ganhou diferenciação no mercado.

Joshua Bishop, economista-chefe da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), defende que o principal objetivo do relatório é apontar formas de tornar as práticas sustentáveis de produção e a conservação da biodiversidade tão ou mais rentáveis que as práticas insustentáveis. “Ainda estamos longe disso, mas acho que alguns empresários e investidores estão tentando mostrar que isso pode acontecer e pode haver um bom progresso em alguns setores”, refletiu.

Fonte: CarbonoBrasil

terça-feira, 5 de julho de 2011

Alimentos contaminados no processamento podem oferecer riscos para a saúde humana

Especialistas destacam os cuidados que devem ser tomados durante o processamento de alimentos para evitar a contaminação e riscos à saúde humana

Os resíduos e contaminantes químicos orgânicos e inorgânicos capazes de apresentar riscos para a saúde humana estiveram em destaque no 10º Simpósio Internacional Abrapa de Inocuidade de Alimentos, realizado nos dias 20 e 21 de junho, em São Paulo, pela Associação Brasileira para a Proteção dos Alimentos (Abrapa).

O evento, realizado no Conselho Regional de Química, teve como objetivo ressaltar os aspectos atuais da segurança química e microbiológica da alimentação humana em todo o mundo, com destaque para o Brasil. Para isso, representantes de órgãos como o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura apresentaram resultados de estudos e de iniciativas na área.

Adriana Pavesi Arisseto, pesquisadora do Ital, ressaltou que, ao mesmo tempo em que certos procedimentos são adotados para melhorar a qualidade e a variedade de alimentos a serem consumidos pelos brasileiros, eles também podem oferecer riscos para a saúde humana, dependendo de como são empregados.

Uma dessas práticas é o processamento de alimentos. “Certamente é um processo sem o qual não conseguimos viver, mas traz também desvantagens”, disse.

Durante sua exposição, Arisseto assinalou aspectos positivos do processamento, entre os quais a segurança alimentar, a eliminação de bactérias patogênicas, toxinas e enzimas, o aumento na quantidade de nutrientes e a oferta de alimentos mais convenientes e diversificados.

“No entanto, certos processos podem gerar para os produtos finais certas desvantagens. Um deles é a perda de nutrientes, como as vitaminas, e de qualidade sensorial, além da eventual formação de substâncias tóxicas”, disse.

A pesquisadora explicou que tais substâncias tóxicas não estão presentes na matéria-prima. Sua formação depende do processo aplicado no alimento ou, então, das reações químicas ocorridas entre os próprios compostos – que podem estar presentes nos alimentos ou são adicionados no processamento.

“Esses compostos são preocupantes por duas razões. A primeira se deve ao fato de que a sua presença é impossível de ser evitada. E a segunda é o potencial tóxico que apresentam. A maioria é carcinogênica, associada a fatores tóxicos como, por exemplo, neurotoxicidade, citoxicidade, entre outros efeitos adversos”, alertou.

A maioria dessas substâncias tóxicas é formada durante o tratamento térmico do alimento. Um exemplo está no churrasco: hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) – formados quando a gordura da carne respinga no carvão por conta do calor – juntam-se à fumaça e aderem à carne. Estudos indicaram que a ingestão elevada de HPAs pode representar riscos à saúde, como o desenvolvimento de câncer.

Entre os produtos críticos citados por Arisseto, a maioria envolve óleos – por conta da fritura –, cloreto de sódio e gordura saturada. Atualmente, Arisseto faz pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) com bolsa da FAPESP, dedicando-se a estudos sobre ocorrência de furano em alimentos. O furano é uma substância contaminante que pode causar câncer e foi identificada pela primeira vez em 1968, no café.

De acordo com ela, a preocupação mundial com o tema ressurgiu a partir de um estudo da Administração Americana de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês), que revelou a presença de furano em diversos alimentos processados em embalagens fechadas, como alimentos em conserva e alimentos infantis.

“A formação do furano é um pouco complexa e ainda não está completamente elucidada. Os dados indicam que ele pode se formar a partir da reação de Maillard – uma reação química entre um aminoácido ou proteína e um carboidrato reduzido – e que os potenciais precursores são os açúcares, o ácido ascórbico e os ácidos graxos poliinsaturados”, disse a pesquisadora.

Embora sejam realizados estudos sobre os contaminantes, Arisseto ressaltou que o mecanismo exato de formação da maioria das substâncias ainda é incerto e alertou para o surgimento de outras.

“Existe hoje um esforço muito grande de se realizar estudos epidemiológicos e toxicológicos, mas é muito difícil saber quais são os verdadeiros riscos envolvidos na presença dessas substâncias nos alimentos. E já que é impossível evitar que sejam formadas, acredito que seja importante desenvolver estratégias para diminuir sua formação e, dessa forma, diminuirmos também a ingestão dessas substâncias e o risco para a saúde humana”, disse.

Reportagem de Mônica Pileggi, da Agência FAPESP.


Fonte: EcoDebate.

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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Brasil alcança meta do milênio de acesso a água, mas ainda apresenta grandes desafios

por Redação EcoD

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresentado na terça-feira, 28 de junho, em Brasília, apontou que o Brasil alcançou a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) de reduzir as desigualdades no que diz respeito ao acesso a água potável. Segundo o instituto, o desafio agora é levar esgoto à zona rural.

Os dados foram apresentados durante a primeira edição do Seminário Franco-Brasileiro sobre Saúde Ambiental: Água, Saúde e Desenvolvimento, organizado pela Embaixada da França no Brasil e pelo Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), com parceria do Ipea, dos ministérios da Saúde, Cidades, Meio Ambiente e Desenvolvimento Social e Combate à Fome, além da Fiocruz, Organização Mundial da Saúde e Organização Pan-Americana da Saúde.

Os resultados apresentados foram relativos a estudos do alcance dos ODM nos estados brasileiros no contexto da sustentabilidade ambiental. De acordo com Maria da Piedade Morais, coordenadora de Estudos Setoriais Urbanos da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur) do Ipea, o Brasil alcançou a meta de reduzir as desigualdades no que se relaciona ao acesso à água com canalização interna proveniente de rede geral. O percentual passou de 82,3%, em 1992, para 91,6%, em 2008.

Maria da Piedade ressaltou, no entanto, que quando os dados são avaliados por estados e zona rural, ainda há muito espaço para melhoria dos indicadores, fazendo com que o alcance dessa meta ainda não seja uma realidade. Segundo ela, considerando todos os recortes geográficos e socioeconômicos, as desigualdades ainda permanecem bastante elevadas.

Nas áreas rurais, embora tenha sido registrado avanço significativo na proporção da população abastecida por rede geral, com ou sem canalização interna (que passou de 12,4%, em 1992, para 32,6%, em 2008), o percentual de cobertura por rede pública ainda é bem inferior ao registrado nas áreas urbanas, não tendo sido possível alcançar a meta de reduzir as desigualdades pela metade. O estudo aponta que, na zona rural, a água utilizada pelas famílias ainda provém principalmente de poços, nascentes ou outro tipo de fonte.

Esgoto

A desigualdade espacial e social também se dá no acesso aos serviços de esgotamento sanitário. Na escala regional, os maiores déficits ocorrem no Norte, Centro-Oeste e Nordeste e áreas rurais. Embora o percentual de cobertura por rede geral de esgotos ou fossa séptica tenha subido de 10,3%, em 1992, para 23,1%, em 2008, as condições ainda são inadequadas.

No campo, 46,6% da população é atendida por fossas rudimentares, 5,6% por vala, 3,1% lançam seus esgotos diretamente nos rios, lagos ou mar, 0,6% adotam outro tipo de solução não adequada e 21% não possuem nenhum tipo de esgotamento sanitário.

No acesso simultâneo aos dois tipos de serviço de saneamento básico, o porcentual da população urbana servida por água canalizada de rede geral no interior do domicílio e esgotamento sanitário de rede geral ou fossa séptica passou de 62,3%, em 1992, para 76%, em 2008.

Levando em conta os aspectos étnicos, mesmo tendo sofrido redução de 13% nos últimos 16 anos, as desigualdades no acesso a saneamento adequado ainda são bastante pronunciadas: 82,2% da população branca está coberta por serviços de água e esgoto adequados, contra apenas 69,4% de cobertura entre pretos e pardos.

Com informações do Ipea.

Fonte:Envolverde/Publicado originalmente no site EcoD.