terça-feira, 30 de junho de 2009

DESENVOLVIMENTO DA HUMANIDADE e OS RECURSOS HIDRÍCOS DA TERRA

Sinopse da Inocentes de Belford Roxo no Carnaval de 2010.



Como criamos e dominamos várias forças das águas em nosso beneficio e como hoje nós mesmos continuamos a destruir paulatinamente este sistema.

A Água" que, potável, mata a nossa sede, que com sua força nos dá energia, com a sua suavidade rega as nossas plantações e também nos alimenta. É ela a provedora da nossa vida hoje, cuidemos para que continue sendo amanhã.

Durante milênios o Ser Humano usou como prática de vida ser nômade. Buscava caça e migrava com as estações do ano. Com a domesticação dos animais, outras gerações passaram a ter mais trabalho na busca de água e alimentos para si e para os bichos. O crescimento das populações e o plantio para a subsistência tornavam cada vez mais difícil este fluxo migratório a ponto de se fazer impraticável.

O Homem começa a perceber que mudas retiradas de uma boa qualidade de alimento quando replantadas daria uma colheita tão boa, ou melhor, apenas observando a qualidade do solo, incluindo a sua umidade; era o plantio seletivo.

A agricultura como moeda e seletiva em busca de qualidade torna-se prática comum no inicio das civilizações Egípcias e da Mesopotâmia.

O Rio Nilo começa a receber em suas margens vários núcleos de povoamento e além de fornecer água também gera terra propícia para o plantio, sem contar com a pesca abundante em quase todo o ano.

Com um clima feroz e inconstante os egípcios observam que em muitas áreas de colheitas perdidas, algumas mudas prosperavam próximas as irregularidades do rio e após sucessivas experimentações com valas para afluxo d'água, as plantações suportavam as intempéries e prosperavam. Foi criada a primeira técnica de controle de fluxo fluvial (dos rios). O Homem deu um largo passo para a utilização dos Recursos Hídricos no plantio do arroz, em várzeas e trigo irrigado. Graças à habilidade no domínio destas técnicas, construtores Egípcios elaboraram os primeiros diques e canais para o fornecimento de água para os centros mais populosos incluindo templos e palácios

Desenvolvendo as técnicas hídricas na Historia.

A Mesopotâmia também por necessidade, tal qual os egípcios, desenvolvem suas próprias técnicas de irrigação e condução de águas. Com a experiência dos nômades Árabes aprendem a achar lençóis artesianos e criam a primeira elevatória movida a bois, daí surgindo uma das maiores Maravilhas da Antiguidade: os Jardins Suspensos da Babilônia.

Os Chineses introduzem no seu cotidiano além dos aquedutos o sistema de pressão por gravidade em dutos feitos de bambu. Gerando todo um novo conceito em hidráulica. Sendo seu uso implementado para fins estéticos com a criação de fontes artificiais para vários locais como: palácios, jardins e espaços públicos.

Já os Gregos desenvolvem o conhecimento herdado dos Egípcios e dos Babilônicos quanto à captação pluvial (da chuva), criando poços recipientes artificiais e interligando-os aos naturais, encontrados nas montanhas, para levar água as cidades. Tudo isso por túneis meticulosamente desenhados para que não se perdesse o fluxo de deslocamento.

São construídas nas cidades e ilhas vulcânicas, estações de banho termais, onde engenhosamente são misturadas águas vindas ferventes do solo com águas frescas tornando esta prática uma experiência extremamente agradável.

Como o conhecimento era algo precioso mesmo naquela época, os Romanos munidos destas informações e com suas grandes cidades crescendo em ritmo vertiginoso, tinham que zelar por sua boa qualidade de vida e higiene para suas populações. Foram eles que criaram os aquedutos aéreos, os banhos particulares, os primeiros escoadouros de esgoto incluindo uma malha por baixo de quase toda Roma. Por fim conceberam um dos mais geniais métodos de filtragem de água, construindo em alvenaria cilindros concêntricos de argila, no subsolo alimentado de fora para dentro e com perfurações diferentes para o escoamento e deposito de sedimentos. Esta pratica ainda faz pratica das companhias de águas modernas; com a diferença do uso de reagentes químicos decantadores nos dias atuais.

À parte temos também a relação da Índia com o seu Rio Ganges. Peculiarmente este rio influencia de tal ordem o seu povo que todo o desenvolvimento humano e religioso está interligado a este. A água faz parte integrante de todas as atividades dos Hindus, nas praticas de tingimentos ou nas lavouras entre outros há uma adaptação de procedimentos devido as Monções (chuvas fortes de Verão). Na fé a água é o símbolo mais importante a ponto de se tornar remédio sagrado quando retirado do Ganges que também abençoa uma nova vida e leva seus entes queridos falecidos. É a água como sistema hídrico e elemento que transporta a vida natural e espiritual de um povo.

Utilizando Inventos e Conceitos.

Com a chegada da Era Renascentista na Europa e tomados pelos conhecimentos Mouros, expulsos do continente, toda uma nova ordem de pensadores e cientistas volta-se para os estudos e ensaios gravados em manuscritos antigos e guardados a sete chaves no período Medieval. Os conhecimentos das antigas civilizações, aqui já citadas, aguçaram mentes brilhantes como Leonardo da Vinci, Galileu Galilei e Torricelli e colaboraram com seus inventos e conceitos para o desenvolvimento da Hidráulica e da Hidrologia.

As rodas d´água de recipientes de barro foram substituídas por aletas, da Vinci inventou a roda com hélice Helicoidal.

Galileu mediu a pressão de esguicho, constatando que este subia a altura do recipiente. A teoria fundamenta ate hoje o principio da pressão hidráulica em construções.

Torricelli ensaiou o peso da água em relação a outros materiais orgânicos ou inorgânicos trazendo uma nova luz à mecânica hidráulica.

As rodas d´água e seus usos ficam evidentes nas casas de moagem que também usavam pilões movidos a essas rodas.

A industria têxtil substitui o trabalho artesanal das fiandeiras por novos equipamentos movidos com a força hidráulica. Eram tempos de geringonças alimentadas pela energia da água.

Infelizmente a Europa teve que passar pela Peste Negra que dizimou um terço da população para que percebessem que a falta de higiene era a grande responsável do desastre. Era pratica comum a falta de banho, o esgoto a céu aberto e a não higienização dos alimentos. O primeiro pais a minimizar os efeitos da praga foi a Inglaterra. Foi criada em Londres a primeira malha de esgotos subterrânea moderna e introduzida de forma emergencial, incluindo o escoamento pluvial. Outra malha de dutos e encanamentos, foi construída para incentivar a higienização das pessoas e lares, literalmente lavando a Peste da capital inglesa.

Com o aperfeiçoamento da industrialização da metalurgia, canos de ferro ou cobre, válvulas e torneiras passaram juntamente com os conhecimentos teóricos, a fazer parte das residências que já podiam contar com poços artesianos, caixas d´água e terminais com fluência nos vários cômodos onde fossem necessários.

Novas bombas de elevação ou retirada foram criadas dando dinamismo maior às atividades hídricas do campo e das cidades. Um exemplo disto no Brasil deveu-se a Mauricio de Nassau que introduziu a irrigação mecânica em plena Olinda canavieira.

Por fim ressurge das práticas dos Gregos e Romanos a utilização das águas das chuvas nas plantações com a criação de diques artificiais capazes de armazenar estas e distribuí-las de forma ordenada por meios de comportas. As águas também podiam impedir calamidades provocadas por Cheias.


Usando os Recursos Hídricos hoje.

Quando pensamos em uma cidade moderna hoje, é impossível conceber residências que não tenham suas caixas d?água, seus sistemas hidráulicos e seu escoamento de esgoto. Os Estados, Municípios e o Governo Federal investem pesado no sistema de abastecimento de água, seu tratamento, distribuição e um eficiente escoamento de esgoto.


Águas de rios e chuvas são armazenadas em bacias artificiais que alimentam varias adutoras que carregam para Centros de Tratamento e filtragem como processo de purificação das mesmas.

A Industria do Campo tem um tratamento diferenciado, pois, 70% da demanda de água doce no Brasil é direcionada ao plantio, criação animal e higienização de produtos produzidos no campo, quer sejam de qualquer origem.

Nosso país tem dimensões continentais, conta com uma malha hidrográfica considerável e tirando proveito disso a prática da navegação une povos ribeirinhos e cidades que dificilmente podem receber estradas e vias férreas, integrando gente e produtos por estes produzidos a outros recantos do Brasil.

Dos rios e do mar saem outra prática comum para nós, a pesca e a piscicultura alimentar e ornamental principalmente nas regiões das bacias do Amazonas e do São Francisco, implementando as economias destas regiões.

Esta mesma malha, incluindo seus acidentes geográficos, propiciam outras práticas como os esportes, recreação e turismo ecológico, gerando divisas que ajudam na conservação destes locais.

A geração de energia, tanto mecânica - que na prática não mudou em séculos - quanto a elétrica, são sustentáculos do nosso progresso. Algumas das maiores represas hidroelétricas do mundo estão aqui e, é desses recursos hídricos que conseguimos suprir a nossa demanda de eletricidade.

Um país com tal variação climática como o nosso, tem que se adequar e tomar em mãos soluções por vezes inusitadas para suprir suas deficiências de água. É prática comum desviar rios para abastecimento, entretanto, existem áreas onde os lençóis freáticos são profundos e, com a carência de recursos, torna-se quase inviável tal perfuração. A solução surge dos céus; o armazenamento da água da chuva vem como resposta a tal deficiência, tanto em reservatórios ao ar livre como em recipientes armazenadores que utilizam até os telhados das casas para seu escoamento; esse é o conhecido projeto "Care".


Estragamos?! Vamos Consertar!

Com a enorme emissão de CO² na atmosfera, sentimos o efeito imediato com o aquecimento global e a reação inicial dá-se logo no desequilíbrio do sistema hídrico mundial, com enchentes secas, períodos diferentes de chuvas e monções e, principalmente, nos períodos de cheias e vazões dos rios.

O derretimento das calotas polares se tornou algo extremamente grave, pois coloca em risco todas as faixas litorâneas do planeta, já que os níveis dos oceanos tendem a subir de uma forma que podem tornar-se catastróficos.

O perigo da poluição vai além; com o uso indiscriminado dos rios como alvos de despejos de esgotos e dejetos industriais, incluindo o extrativismo mineral, causando a falência da capacidade regenerativa dos rios, deixando regiões com graves problemas de infra-estrutura. Como conseqüência há o comprometimento da qualidade do abastecimento de água potável, a inadequação para a piscicultura e até a inviabilidade da navegação.

Com o desmatamento indiscriminado, a falência se torna morte, as nascentes que precisam do auxílio da vegetação para retenção e despejo líquido, não conseguem minar a água, que se esvai para lençóis no subsolo, que por sua vez, está sendo comprometido pelo uso abusivo de agrotóxicos, somado às substâncias provenientes dos aterros sanitários, os "lixões" e, também, a contaminação do solo com o despejo de resíduos químicos de várias ordens.

Nem mesmo as águas das chuvas escapam deste verdadeiro caos que nos envolve. Em determinados centros industriais ocorre o fenômeno assustador da chuva ácida, que mata a vegetação e inviabiliza o solo.

Outra situação grave está diretamente ligada aos hábitos dos moradores das grandes cidades. O desperdício de água tratada acontece em simples atitudes do nosso dia; torneiras mal fechadas, escovar os dentes ou fazer a barba com a torneira aberta, tomar banhos longos, lavar as calçadas em vez de varrê-las, lavar poucas roupas em maquinas são alguns dos muitos exemplos de como ainda pensamos na abundância deste precioso liquido, sem nos darmos conta que a nossa realidade é bem diferente.

Mas, nem tudo está perdido. Hoje no Brasil, temos e formamos engenheiros e técnicos em recursos hídricos, ambientalistas, biólogos, físicos e outros profissionais extremamente bem preparados e que, aliados a empresas com consciência ecológica, ajudam a solucionar ou minimizar as graves conseqüências de décadas de desleixo e indiferença sobre atos nocivos a todos.

Precisamos fazer a nossa parte, pondo a mão na consciência e optando dia a dia por ações que não destruam mais o nosso lar que é o universo.

O futuro das novas gerações dependerá de nossas ações no presente para salvaguardar estes recursos. A produção de alimentos "orgânicos", a capacidade de geração de energia elétrica, cuja demanda deverá dobrar já que a tendência é que os novos combustíveis para autos serão a eletricidade e a água, com a fusão de hidrogênio; a produção da piscicultura, que é primordial para a alimentação e, por fim, a preservação da água potável que já está em falta.

É a nossa realidade e a nossa visão de futuro que estão comprometidas.

Roberto Szaniecki
Cristiano Bara
Carnavalescos

sábado, 27 de junho de 2009

Paraná destina 12,5% mais embalagens vazias de defensivos agrícolas

De janeiro a maio, as unidades de recebimento paranaenses encaminharam 1.807 toneladas de embalagens vazias de defensivos agrícolas ao destino final ambientalmente correto (reciclagem ou incineração), volume 12,5% maior em comparação com o mesmo período de 2008, quando foram destinadas 1.605,7 toneladas.

De acordo com o inpEV – instituto que tem como associados os fabricantes de defensivos agrícolas –, somente em maio, seguiram para o destino final 517 toneladas de embalagens vazias, que representam 17% do volume total do Brasil.

Os bons índices conquistados pelo sistema de destinação final no estado são possíveis graças a ações conjuntas que envolvem agricultores, distribuidores e cooperativas, indústria e poder público, representado no Paraná pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema) e suas autarquias Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa) e da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab).

Brasil ultrapassa as 10 mil toneladas de embalagens vazias de agrotóxicos destinadas em 2009

O Brasil encaminhou 11.164 toneladas de embalagens vazias de agrotóxicos ao destino final ambientalmente correto (reciclagem ou incineração) de janeiro a maio deste ano, segundo o inpEV. Esse volume representa um crescimento de 16,2% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram destinadas 9.609 toneladas. Com esse índice, o país ultrapassou a marca das 10 mil toneladas, sendo que somente em maio seguiram para o destino final 3.044 t de embalagens vazias.

O inpEV – Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias – é uma entidade sem fins lucrativos que representa a indústria fabricante de defensivos agrícolas em sua responsabilidade de destinar as embalagens vazias de seus produtos de acordo com a Lei Federal nº 9.974/2000 e o Decreto Federal nº 4.074/2002. A lei atribui a cada elo da cadeia produtiva agrícola (agricultores, fabricantes, canais de distribuição e poder público) responsabilidades que possibilitam o funcionamento do Sistema de Destinação de Embalagens Vazias.

O instituto foi fundado em 14 de dezembro de 2001 e entrou em funcionamento em março de 2002. Atualmente, possui 75 empresas e sete entidades de classe do setor agrícola como associadas.

Mais informações sobre o inpEV e o Sistema de Destinação Final de Embalagens Vazias estão disponíveis no site www.inpev.org.br.

Fonte:Safra news

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Instituto sugere transformação de sacola plástica em energia

Por Alana Gandra, da Agência Brasil


Rio de Janeiro - O presidente do Instituto Socioambiental dos Plásticos (Plastivida), Francisco de Assis Esmeraldo, defendeu a reciclagem energética do saco plástico como forma de dar uma destinação eficaz ao produto, considerado por ambientalistas agressivo ao meio ambiente. A entidade representa a cadeia produtiva do setor para promover sua utilização ambientalmente correta.

Segundo Esmeraldo, o Brasil recicla hoje 600 mil toneladas de plásticos descartáveis de todos os tipos por ano, o que corresponde a reciclar 21,5% de todo o plástico que é descartado. Isso é mais do que a média da União Européia, que é de 18,5%.

O problema gerado pelo plástico, segundo ele, não é acirrado na Europa porque lá é feita a reciclagem energética. “Plástico é petróleo, petróleo é energia. Logo, plástico é energia". O presidente do instituto argumentou que 1 quilo de plástico produz a mesma energia que 1 quilo de óleo diesel, “que é petróleo. E ninguém joga fora óleo diesel”.

O Plastivida quer trazer esse conceito para o Brasil. Esmeraldo assegurou que se as sacolas plásticas distribuídas pelos supermercados forem fabricadas dentro das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com espessura de 27 micra (um milésimo de milímetro), elas agüentam até 6 quilos de compras e não é necessário substituí-las por outro material. Atualmente, acrescentou, a espessura das sacolas plásticas caiu para até 14 micra, suportando somente 2 a 3 quilos de peso.

O Instituto Plastivida defende a redução do desperdício de sacolas plásticas no comércio, com um produto de melhor qualidade, e sua reutilização para outros fins, como o acondicionamento de lixo. Sacolas de pano têm, segundo Esmeraldo, várias desvantagens, entre elas o fato de que sujam, se contaminam e têm que ser lavadas, gastando água, sabão e energia. No caso do plástico, basta passar um pano e está limpo, lembrou.


(Envolverde/Agência Brasil)

terça-feira, 23 de junho de 2009

Ministério do Meio Ambiente lança campanha pela redução do uso de sacolas plásticas

Iniciativa tem apoio do Wal-Mart e pretende sensibilizar consumidores brasileiros sobre os danos do consumo exagerado do material.

O Ministério do Meio Ambiente (MMA), em parceria com entidades privadas, entre elas a rede Wal-Mart (parceiro estratégico do Instituto Akatu), lançou nesta terça-feira, 23 de junho, a campanha nacional “Saco é um saco” com objetivo de incentivar os consumidores a reduzir o uso de sacolas plásticas. Com a iniciativa, o MMA pretende enfrentar o impacto ambiental do consumo exagerado de sacolas plásticas, conscientizando e incentivando os consumidores a usarem alternativas para o transporte das compras e acondicionamento de lixo domiciliar.

Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), o Brasil consome 12 bilhões de sacolas plásticas por ano. As sacolas descartadas incorretamente entopem bueiros e poluem rios, lagos e mares. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) indicam que sacolas plásticas estão chegando a locais distantes, considerados paraísos ecológicos e turísticos.

A campanha será veiculada em diversas mídias (televisão, jornal, revistas, rádio, internet, marketing viral e cinema) de forma simultânea, de modo a atingir todos os públicos, principalmente donas de casa, jovens e pessoas que residem em cidades grandes, onde o consumo é mais intenso.

O Wal-Mart apoiará todas as fases da campanha e financiou a criação e produção das peças para divulgação como filmes, anúncios em revistas e folhetos.

Sacolas plásticas viram sacos de lixo

Uma pesquisa realizada pelo Ibope, em São Paulo, revelou que 100% dos consumidores entrevistados reutilizam as sacolas plásticas em casa como sacos de lixo. Essa é a opção da pesquisadora Luana Mendieta Cinoto, 29 anos. Ao carregar as compras do supermercado, ela leva uma mochila e uma sacola retornável, tudo para usar o menor número possível de sacolas plásticas. Entretanto, os sacos plásticos são a única solução que a pesquisadora — e milhões de consumidores brasileiros — encontraram para o acondicionamento de lixo dentro de casa. “Só pego sacolas no supermercado para jogar lixo orgânico. A meu ver, é a única solução higiênica possível no Brasil”, afirma Luana.

Para Ana Maria Luz, presidente do Instituto GEA, instituição que promove a cidadania através da educação ambiental, o uso de sacolas plásticas para o acondicionamento do lixo comum é um jeito de prolongar a vida útil do material, “o que já é bastante positivo”, garante.

Além disso, essa prática garante que esse material seja descartado em aterros sanitários ou lixões e não em vias públicas, o que traria danos como entupimento de bueiros e as conseqüentes enchentes. “O que faz da sacola plástica uma vilã para o meio ambiente são o uso e o descarte incorretos”, defende Ana Maria.

Dicas para usar corretamente ou não usar as sacolas plásticas

* No supermercado, pegue apenas a quantidade de sacolas plásticas adequada às compras, não em excesso;

* Sempre reutilize as sacolas plásticas em casa;

* Se não reutilizar, encaminhe-as para reciclagem;

* Descubra alternativas para a sacola plástica, como a sacola durável. Procure carregar as pequenas compras, como revistas ou caixa de remédios, na própria bolsa ou na mochila;

* Para as compras maiores, além da sacola durável, são boas opções o velho carrinho de feira ou caixas de papelão que o próprio supermercado pode oferecer;

* Reduza a quantidade de lixo que você produz em casa. Assim, precisará de menos sacos plásticos para descartá-lo. Uma forma de diminuir a quantidade de lixo é evitar produtos com excesso de embalagem. Outra maneira é evitar o desperdício de alimentos, o que se consegue com atitudes simples como: planejar o cardápio da semana, planejar as compras e reaproveitar as sobras das refeições.


(Envolverde/Instituto Akatu)

O CAMINHO DE VOLTA AGORA É LEI

Indústria e comércio terão que recolher os produtos que chegam ao fim de sua vida útil e são descartados pelos consumidores. FIEMG e AMIS estão cautelosas, mas tendência é irreversível.

Até agora, os produtos industrializados seguem um mesmo caminho. Saem da indústria, vão para o comércio, daí para o consumidor e, depois que chegam ao fim de sua vida útil, com raras exceções, são simplesmente descartados.
Aí, entra em cena o poder público, que fica responsável por esta última etapa: dar a este resíduo uma destinação minimamente correta, do ponto de vista ambiental.

A grande questão é que o lucro que ele propicia ao longo de sua vida útil fica com a iniciativa privada - indústria e comércio, mas a despesa correspondente ao custo do descarte fica com o poder público.

A Lei 18.031, que define as normas da Política Estadual de Resíduos Sólidos, sancionada em janeiro último pelo governador Aécio Neves, inverteu o caminho acima descrito, ao obrigar a indústria e o comércio a colocarem em prática a "logística reversa", que nada mais é do que obrigar esse mesmo produto, cujo ônus final de descarte seria do poder público, a fazer o caminho de volta.

Em vez de ser simplesmente aterrado, como ocorre hoje, ele seria recolhido e reciclado, como já fazem, ainda que embrionariamente, as indústrias de pilhas e baterias, telefones celulares e pneus.

Pioneirismo mineiro

A lei mineira foi a primeira no país a instituir a logística reversa como norma. No Congresso Nacional, tramita projeto de lei que torna obrigatória a implantação da medidad em todo o país, sendo grandes as chances de o projeto ser aprovado ainda este ano. Em São Paulo, deve entrar em vigor, nas próximas semanas, a Lei 13.316/02, que obriga os fabricantes a recuperar ou reutilizar as embalegens plásticas.

Ainda que sejam iniciativas isoladas, essa é uma tendência irreversível. "Alguns setores serão muito afetados em um futuro próximo, como a indústria de embalagens e bens de consumo. Na Europa, a responsabilidade do retorno dos eletroeletrônicos ao final de sua vida útil já é dos fabricantes", diz Paulo Roberto Leite, presidente do Conselho de Logística Reversa do Brasil (CLRB).

Abes-MG considera lei um avanço

Para a arquiteta Maeli Estrela Borges, que já foi titular da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) da Prefeitura de Belo Horizonte, a Lei 18.031 é importante por três razões. Primeiro, por fixar responsabilidades para cada um dos componentes da cadeira produtiva, de forma a reduzir o volume de resíduos gerados e, consequentemente, contribuir no sentido de evitar o maior consumo e os passivos ambientais das disposições de resíduos no solo. Além de instituir a logística reversa, a lei é importante porque incentiva a adoção de planos de gestão integrada, inclusive entre municípios de uma determinada região e o planejamento regional integrado da gestão dos resíduos nas microregiões definidads por lei estadual. O terceiro fator por ela destacado é o de não considerar mais o aterro sanitário como a solução ideal para o problema dos resíduos, restringindo seu uso apenas para rejeitos, ao mesmo tempo em que incentiva práticas como a coleta seletiva e a reutilização, entre outras formas de reduzir a geração de resíduos.

Fonte:Guia BD

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Poluição e “pesca fantasma” contribuem para a degradação do ambiente marinho

Nas últimas décadas, os ecossistemas marinhos, em especial os costeiros em função da proximidade com os Continentes, têm sido impactados por poluição proveniente das mais diversas fontes. Entre elas, destacam-se os dejetos industriais e os defensivos agrícolas, como pesticidas e adubos, que são utilizados nas plantações e arrastados pela chuva para córregos, rios e conseqüentemente para o mar. Por essa razão, é exatamente nas regiões estuarinas (áreas onde o mar e o rio se encontram) que ocorre o maior nível de concentração de poluentes.

A poluição resultante da ocupação humana, como é o caso de materiais plásticos e dos esgotos doméstico, também é responsável pelo processo de degradação. Segundo Fábio Hissa Vieira Hazin, especialista em oceanografia pesqueira, o grande volume de contaminantes resultados de esgoto doméstico não tratado, é o principal causador dos processos de eutrofização (crescimento excessivo de plantas aquáticas) e exaustão do oxigênio disponível nos corpos d’água que cruzam as grandes cidades brasileiras.

“As conseqüências desses processos para o ecossistema costeiro são enormes e gravíssimas, principalmente por que grande parte das espécies, a maioria de valor comercial, tem as regiões estuarinas como áreas essenciais para o desenvolvimento das fases iniciais do seu ciclo de vida, que também são as mais vulneráveis e frágeis”, explica Hazin.

A estimativa é de que, anualmente, mais de 13 mil objetos plásticos flutuem por quilômetro quadrado de oceano. Em 2006, um levantamento apontou que, em alguns trechos do Oceano Pacifico, foram encontrados seis quilogramas de plástico para cada quilograma de plâncton. Os resultados são preocupantes e alertam a sociedade para o alto nível de contaminação dos oceanos.

Hazin afirma que o processo de degradação enfrentado pelos ecossistemas costeiros e pelos rios que cortam os grandes centros urbanos do País, pode ser considerado a maior tragédia ambiental brasileira e seus impactos têm afetado significativamente tanto a biomassa das espécies que eles comportam como a sua biodiversidade. De acordo com ele, a solução para esse problema envolve trabalho de saneamento e tratamento de esgoto que demanda tempo e alto investimento econômico. “Além disso, é necessária uma mudança de comportamento, de atitude e do próprio paradigma de desenvolvimento a fim de conscientizar a população brasileira sobre a importância da preservação do meio ambiente, e em particular, dos ecossistemas marinhos”.

Pesca fantasma

Equipamentos de pesca perdidos, abandonados ou descartados são responsáveis hoje por 10% dos resíduos que poluem o ambiente marinho (cerca de 640 mil toneladas). Segundo um relatório sobre “pesca fantasma”, elaborado em conjunto pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e divulgado em maio último, cerca de oito milhões de itens listados como lixo são despejados a cada dia nos oceanos e mares. Desse total de objetos, cerca de cinco milhões (63%) são resíduos sólidos perdidos por barcos. O principal responsável por esse grande volume de resíduos é o transporte comercial marítimo, que faz com que muitos equipamentos se percam no mar durante tempestades ou em conseqüência de fortes correntes marinhas.

O aumento na escala global de operações de pesca e a introdução de equipamentos de longa durabilidade fabricados com materiais sintéticos aumentam os impactos sobre o meio ambiente. Entre os principais danos estão a alteração do solo marinho, o aumento do risco de navegação e a captura contínua de peixes e de outros animais como tartarugas, aves e mamíferos marinhos (conhecida como “pesca fantasma”), muito tempo após do aparelho de pesca ter sido abandonado.

As redes e armadilhas são os principais apetrechos de pesca responsáveis pela “pesca fantasma”. Com a proibição internacional de utilização das imensas redes de deriva oceânica (drift nets) em 1992, o impacto negativo causado pelas mesmas foi significativamente reduzido, dizem os especialistas.

Hoje, as redes que mais oferecem riscos são as ancoradas no fundo do mar, as quais ficam presas a flutuadores na superfície, formando uma parede vertical que pode medir entre 600 e 10 mil metros de comprimento. Quando perdidas ou abandonas, elas podem continuar “pescando” indiscriminadamente por meses, e, às vezes, anos.

O mesmo ocorre com as armadilhas. O referido relatório estima, por exemplo, que das 500 mil armadilhas de caranguejo que são instaladas anualmente na Bahia de Chesapeake, nos EUA, cerca de 150 mil são perdidas. Só a Ilha de Guadalupe, no Caribe, é responsável pela instalação anual de 20 mil armadilhas, entretanto 50% destes equipamentos se perdem nos furacões.

No relatório, Ichiro Nomura, subdiretor geral de Pesca e Agricultura da FAO, afirma que se medidas efetivas não forem adotadas pela comunidade internacional, os equipamentos continuarão se acumulando no ambiente marinho e consequentemente os impactos aos ecossistemas aumentarão. “As estratégias para enfrentar o problema devem abordar várias frentes, incluindo prevenção, diminuição e medidas reparadoras”, diz Ichiro.

O diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner, explica no estudo que, além dos equipamentos abandonados, perdidos ou descartados, existem muitos outros fatores que prejudicam o ambiente marinho, como a sobrepesca, a acidificação ligada ao aquecimento global e o aumento das zonas mortas desoxigenadas. Esses processos formam um conjunto de desafios que devem ser resolvido coletivamente, para que seja mantida a produtividade dos oceanos e mares.

De acordo com o relatório FAO/Pnuma, incentivar economicamente os pescadores que informarem a perda ou dano em algum equipamento, aperfeiçoar o processo de notificação, melhorar o recolhimento, eliminação e reciclagem dos equipamentos, catalogar os materiais de pesca e utilizar novas tecnologias, como GPS e transponders, para monitorar e localizar os equipamentos perdidos, são algumas das iniciativas que podem contribuir para a solução da “pesca fantasma”.

Além disso, está em andamento um estudo sobre a adoção comercial de equipamentos com componentes duráveis, como os materiais sintéticos, mas que incorporem elementos biodegradáveis, que se desintegrem ao permanecer por um determinado tempo imerso no mar. Essa adoção comercial deve vir acompanhada de um sistema de informação e recuperação de equipamentos de pesca perdidos para reduzir o nível de resíduos no ecossistema.

Para o especialista Hazin, embora o relatório não tenha divulgado nenhum fato novo, ele alerta à comunidade internacional sobre a necessidade de se conscientizar a sociedade para que seja deflagrado um processo urgente de recuperação e preservação dos ecossistemas marinhos.


(Envolverde/Ministério da Ciência e Tecnologia)

Palestina: Água que não se deve beber

Por Mel Frykberg, da IPS




Faqua, Palestina, 12/06/2009 – A setentrional aldeia de Faqua, na Cisjordânia, tem seu nome do aquífero sobre o qual se assenta. Mas a população carece desse recurso, controlado por Israel. Os problemas começaram em 1948 com a criação de Israel, quando 2,4 hectares dos 3,5 que tem Faqua e a maior parte da água subterrânea foram tomados pelo Estado judeu. Os palestinos continuaram sofrendo escassez de água após a assinatura dos acordos de paz de Oslo em 1993 e da criação da Comissão de Água Palestino-israelense, diz um informe do Banco Mundial divulgado em abril.

A Cisjordânia está dividida em três zonas: área A, sob controle palestino; B, sob controle palestino e israelense, e C, sob controle israelense, dentro da qual fica Faqua. Para os moradores da área C é muito difícil conseguir autorização das autoridades israelenses para cavar poços ou fazer ligação com a rede de água da empresa Mekorot, de Israel. “Desde 2000 esperamos permissão para construir uma rede de tubulações”, disse à IPS Abu Farha, chefe do conselho desta aldeia. “Mas, não querem nos dar. Tampouco podemos cavar poços ou reparar os que já estão construídos”. Porém, “os colonos podem fazer poços muito mais profundos do que os nossos e consertar os demais”, acrescentou.

O conselho da aldeia de Faqua pensa que Israel pretende expulsar os moradores das aldeias desta região por seu significado estratégico. Faqua, no distrito de Jenin, na Cisjordânia, fica no alto de uma colina de onde se tem uma visão panorâmica do vale do rio Jordão. Esta aldeia, a uma hora de automóvel de Ramala, está perto das fronteiras da Síria e do Líbano. Seus cinco mil habitantes foram prejudicados pro uma barreira erguida por Israel para separar esta aldeia de Maale Gilboa, um kibutz religioso onde vivem 400 colonos.

Esta localidade não está ligada a nenhuma rede de fornecimento e depende da água distribuída por tanques israelenses a um preço exorbitante, além disso, não basta para atender suas necessidades. Metade dos adultos está desempregada. Centenas de pessoas perderam o emprego que tinham em Israel por causa do muro, que também isolou a aldeia de suas terras. Agora as autoridades lhes negam permissão para entrar em Israel. O gado diminuiu de sete mil para dois mil animais devido à falta de água e pela expropriação de terras para construir o muro. “Temos muitos problemas de saúde pela má qualidade da água, mas não temos outra opção a não ser bebê-la”, disse Farha. “Não sabemos se é potável nem de onde vem. Muitas crianças têm diarréia e outras doenças causadas por bactérias como a Escherichia coli”, acrescentou.

Os palestinos não têm água suficiente, enquanto Maale Gilboa, a 500 metros do perímetro de Faqua, está ligada à rede da Mekerot e se pode ver agricultores a qualquer hora do dia irrigando os exuberantes cultivos e jardins do assentamento. Israel tem quatro vezes mais água por habitante do que os palestinos, que apenas podem ter acesso a um quinto do aquífero da Cisjordânia, segundo o informe do Banco Mundial. “A divisão desigual de recursos e a falta de informação sobre o fornecimento impedem os palestinos de terem suas próprias fontes de água”, disse o Banco. “A situação de emergência teve graves ramificações a economia, na sociedade e na ecologia da Autoridade Nacional Palestina (ANP), as crises humanitárias causadas pela falta de água são comuns na Cisjordânia e em Gaza”, acrescenta o informe.

A rede palestina de água está em péssimo estado. Menos de 1,8 milhão de pessoas, dos 2,4 milhões que vivem na Cisjordânia, estão ligadas à rede hídrica, disse o diretor da Autoridade Palestina de Água, Fadel Ka’Wash. “Cerca de 227 mil palestinos não têm água encanada, enquanto 190 mil não recebem quantidade suficiente por problemas na rede e pelo racionamento”, acrescento. Conseguir autorização de Israel para reparos é um pesadelo burocrático eterno e, ao que parece, sem resultado. “Nos disseram que nos dariam mais água, mas que primeiro temos de consertar nossa rede”, disse Ihab Barghuti, da unidade de gestão de projetos desse órgão. “É um círculo vicioso. Não nos dão mais água enquanto não arrumamos a infra-estrutura, mas nos negam autorização para as obras”, afirmou.

O consumo médio de um lar palestino é de 60 litros ao dia, enquanto em um lar israelense chega a 280 litros, segundo a organização israelense de direitos humanos B’Tselem. Em Faqua usa-se 30 litros ao dia por pessoa. O mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de cem. A ANP declarou situação de emergência nas 10 aldeias desta região o Conselho de Igrejas do Oriente Médio interveio para oferecer assistência de emergência. “Analisamos as necessidades dos mais afetados, os lares com menos de cinco pessoas com o chefe de família desempregado ou subempregado e sem água”, disse Ramzi Zananiri, diretor-executivo da Comissão de Trabalhadores Refugiados do Conselho de Igrejas do Oriente Médio.

“Construímos 42 cisternas em sete das 10 aldeias em situação crítica, que armazenam água da chuva e permitem a uma família subsistir por até quatro meses na época seca”, explicou Zananiri. “Atualmente, ajudamos 45 famílias, cerca de três mil pessoas. Esperamos poder construir mais cisternas nas três aldeias que faltam”, acrescentou.

IPS/Envolverde

A dificuldade em compreender a sustentabilidade

Usa-se a palavra “sustentabilidade” para qualquer coisa. Fala-se muito em desenvolvimento sustentável, crescimento sustentável, sustentabilidade ambiental, sustentabilidade econômica, negócios sustentáveis, sustentabilidade ecológica, marketing sustentável, e assim por diante.

A verdade, no entanto, é que poucos compreendem o que seja “sustentabilidade”. Alguns até sabem o que é, todavia evitam empregá-la no seu dia a dia, mas quando o fazem de forma pontual alardeiam mídia afora para que todos possam vê-lo e homenageá-lo. É o que se convencionou chamar de Greenwash. Há ainda os incoerentes que de um lado acenam com medidas pontuais relacionadas à sustentabilidade, mas de outro praticam atos que demonstram a falta de sintonia entre o que dizem e o que fazem.

Com a publicação do Relatório Brundtland (Nosso futuro comum) "Our Common Future", Oxford University Press, 1987, às fls p.43, encontraremos o conceito básico de sustentabilidade, obtido a partir de outra expressão “desenvolvimento sustentável”, ou seja: É o atendimento das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras. Percebe-se que a definição é perfeitamente inteligível, no entanto, não se pode dizer o mesmo em relação à sua aplicação.

Parece-nos que um dos maiores equívocos associados à sustentabilidade é pensar que podemos continuar crescendo indefinidamente, como se não fosse haver um limite. Basta informar que o empreendimento é sustentável para receber a chancela ou simpatia dos diversos stakeholders. Os relatórios do Clube de Roma ou do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC na sigla em inglês - estão a nos dizer o contrário e há muito tempo. Segundo essas entidades, o planeta está em perigo e em breve chegaremos a um ponto sem retorno. Ou seja, a Terra perderá a capacidade de se regenerar e, com isso, vão faltar água e alimentos em diversas partes do globo. O aquecimento global chegará a um nível catastrófico dizimando a vida de uma infinidade de seres vivos.

O cerne do problema reside na velocidade da apropriação dos recursos naturais. Essa pegada inconseqüente está longe de diminuir porque, a cada ano, a população planetária cresce e, assim, demanda cada vez mais recursos naturais. É um círculo necessário, mas extremamente perigoso a todos nós. Para complicar um pouco mais, há os empresários inescrupulosos ávidos por lucros imediatos e portadores de belos discursos sobre a temática ambiental, mas que agem contaminados pela visão imediatista do curtíssimo prazo.

É nesse contexto que surge a sustentabilidade. Ela foi concebida para que o homem, independentemente de suas crenças, possa sensibilizar-se para o real perigo que representa para o planeta. O objetivo da sustentabilidade é induzir o homem a reduzir a pegada predatória. Como a biodiversidade planetária está no limiar do esgotamento, todas as atenções da sustentabilidade dirigem-se para o meio ambiente. No entanto, ela possui infindáveis vertentes. É, portanto em razão dessas inúmeras correlações que a sustentabilidade se tornou um tema complexo. Não se pode fechar questão em torno dela, tampouco aprisioná-la em conceitos que servem mais para acomodar interesses do que compreendê-la.

Novas tecnologias menos intensivas de recursos naturais estão sendo criadas para permitir que o desenvolvimento possa continuar. Esse é o caminho aconselhável a todo empresário sensato. Tudo é válido no sentido de reduzir nossa pegada inconseqüente e irresponsável! Por isso, devemos não apenas nos preocupar, mas pôr em prática ações relacionadas ao uso racional dos recursos naturais, preservação da biodiversidade, reciclagem, redução da emissão de gases de efeito estufa, entre outras medidas.

A complexidade da sustentabilidade decorre do fato de ser necessária a mudança de nossos hábitos e costumes. Para isso é preciso ter ética! É necessário ter respeito para com os seres vivos. Devemos nos preocupar com o próximo! Daí a dificuldade em expandir nossas consciências para além do lugar comum. Não estamos habituados a fazê-lo, e lamentavelmente, poucos possuem boa vontade em ascender a esse novo patamar de consciência. É preciso capacitação e disciplina! Se fosse fácil, o mundo não estaria na situação em que se encontra.

Revista Sustentabilidade

sábado, 6 de junho de 2009

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUAS TRAJETÓRIAS, FUNDAMENTOS E IDENTIDADES

Daniele Barros Jardim

Este texto aborda alguns eixos que norteiam a temática da Educação Ambiental (EA), conforme o que foi apresentado durante a disciplina de Seminários de Educação Ambiental ministrada pela Professora Susana Inês Molon dentro do Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental- PPGEA, da Universidade Federal do Rio Grande- FURG. Este trabalho possui como principal objetivo apresentar abordagens, sobre educação ambiental, bem como elucidar algumas concepções sobre o tema, a partir dos eixos: A trajetória e os fundamentos da EA; A educação ambiental: várias vertentes; e A Educação Ambiental no Brasil, com o intuito de resgatar o que foi discutido e proporcionado dentro da disciplina.


1 PELOS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL...

O início da modernidade no século XVIII ocasionou inúmeras mudanças políticas, culturais, sociais e econômicas; além de inúmeros acontecimentos perturbadores de costumes e hábitos, o que por sua vez proporcionou outras regulamentações regendo o convívio dos habitantes na nova polis. Neste momento, inicia-se uma reestruturação do processo de cidadania, isto é, um moderno contrato social.

No entanto, tais mudanças foram propícias para que as cidades em franca expansão começassem a abranger novas formas de poluição, violência e desorganização, gerando problemáticas ambientais, a partir desse novo agrupamento que acontece em espaços comuns (CASCINO, 2003).

Percebe-se, então, que as questões ambientais começaram a surgir devido a um conjunto de mudanças ocorridas pelo e no mundo. Principalmente, sob o argumento da industrialização acelerada que teve como conseqüência, a necessidade de apropriação cada vez maior e mais rápida dos recursos naturais e humanos, determinando amplas e profundas mudanças nas relações sociais e econômicas.

Nesse contexto, surge a necessidade de praticar a gestão ambiental, pois os espaços naturais necessitavam de uma atenção especial. Cascino (2003) em seus escritos nos comenta que nesse momento a natureza passa a ser compreendida de outra maneira:

A natureza passava a ser vista não apenas como um lugar a ser conquistado, mas como um lugar de relação humana, onde o ser humano pode descansar, distanciando-se da nascente neurose urbana. Esta ressignificação da natureza ocorreu a partir da própria conquista humana da tecnologia – com os novos instrumentos de navegação, os novos modelos de barcos, velas, mastros, etc., enfim, todo o conjunto de novos equipamentos voltados à aventura de explorar os espaços naturais e enfrentar os lugares “inóspitos”. (CASCINO, 2003, p. 20)

Mediante perspectivas históricas e críticas, a educação ambiental quer que as visões de mundo sejam discutidas, compreendidas, problematizadas e incorporadas.

Loureiro (2004) em sua obra Trajetórias e Fundamentos da Educação Ambiental problematiza a questão de voltarmos a falar em fundamentos da educação ambiental, mesmo que estes já estejam definidos e mundialmente aceitos desde a metade da década de 1970. Ele justifica que a banalização de alguns conceitos e categorias teórico-metodológicas passou a ser comumente incorporados em alguns trabalhos, projetos e programas que se esvaziou de sentidos, perdendo a caracterização da educação ambiental, assim como a capacidade de refletir e de posicionar-se frente a vertentes existentes, principalmente depois da aprovação da Política Nacional de Educação Ambiental- PNEA.

A educação ambiental em 27 de Abril de 1999 virou a Lei N° 9.795- PNEA e em seu Art. 2° afirma que "A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”.

Atualmente, depois de três décadas do início das preocupações com as questões sócio-ambientais, é que a educação ambiental pode expressar-se sobre a necessidade de passar para a sociedade elementos éticos e conceituais a fim de estabelecer uma nova relação com a natureza, buscando superar seu caráter conservador que é muito forte na sociedade. É necessário que o velho paradígma, referente que os educadores ambientais em geral falam das mesmas coisas e possuem os mesmos objetivos, pois o que muda é apenas o setor social em que atuam, seja repensado, refletido e analisado para que aconteça sua superação (LOUREIRO,2004).

Logo, a educação ambiental se constitui em uma forma abrangente de educação, alterando a proposta de educação que conhecemos, visando à participação dos cidadãos nas discussões sobre educação ambiental. A educação ambiental é uma ação educativa que se desenvolve, através de uma prática, em que valores e atitudes promovem um comportamento rumo a mudanças perante a realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo habilidades e atitudes necessárias para dita transformação e emancipação.

A questão ambiental é conhecida como os diferentes modos pelos quais a sociedade, com o passar do tempo, se relaciona com o meio físico natural. Porém, a noção de que a questão ambiental diz respeito à relação sociedade-natureza não basta para direcionar uma metodologia de análise e reflexão que permita a compreensão deste relacionamento em toda sua complexidade. O ponto chave do entendimento da problemática ambiental está na esfera da totalidade da vida em sociedade. De acordo com Layrargues:

Apesar da complexidade ambiental envolver múltiplas dimensões, verifica-se, atualmente, que muitos modos de fazer e pensar a Educação Ambiental enfatizam ou absolutizam a dimensão ecológica da crise ambiental, como se os problemas ambientais fossem originados independentemente das práticas sociais. (LAYRARGUES apud LOUREIRO, 2004, p. 11)

Barcelos (2008) em seu atual livro Educação Ambiental: sobre princípios e atitudes comenta sobre a ampliação do olhar, que é preciso atentar para as representações principalmente sobre as questões ambientais, porque existe uma radical conseqüência sobre aquilo que podemos fazer em nossas atividades e aquilo que realmente é feito. Isto é, “...a busca de uma maior aproximação entre aquilo que denominamos de princípios, idéias, fundamentos ou pressupostos da educação ambiental e as nossaas atitudes cotidianas” (2008, p. 09).

Segundo Loureiro (2004) a problemática central de se retomar tal reflexão sobre os fundamentos da educação ambiental não é estabelecer um modelo padrão para ser orientador aos educadores ambientais, pois isso geraria um reducionismo e uma negação do educar como processo dinâmico. Mas, ele entende e compreeende que devemos:

Objetivamos, sim, definir as premissas que fundamentam uma tendência crítica que enfatiza a Educação Ambiental como uma visão paradigmática diferenciada da e na educação e que, pela explicitação do contraditório, torna compreensível os diferentes modelos encontrados em projetos e programas formais, informais e não formais. (LOUREIRO, 2004, p. 21)

Portanto, é importante a apresentação de diversos conceitos em educação ambiental, que podem e devem ser confrontados democraticamente mediante o diálogo, ocasionando uma demarcação dos diferentes campos teóricos que orientam a educação ambiental em suas múltiplas abordagens. Parafraseando Loureiro (2004) a idéia de que tudo é válido, desde que se tenha em mente a preservação do ambiente, não promove a transformação que desejamos para viver em sociedade da forma como almejamos, nem mesmo para nos sentirmos como parte da natureza.



2 A TRAJETÓRIA E AS IDENTIDADES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL


No Brasil a educação ambiental, em particular, vai surgir tardiamente em meados da década de 1980, porque ganha dimensões públicas de grande importância como, por exemplo, a Constituição Federal em 1988. E o movimento ambientalista brasileiro consegue um caráter público e social apenas no início da mesma década supracitada.

Logo, a educação ambiental se inseriu primeiramente nos setores públicos vinculada com um forte sentido conservador, comportamental e tecnicista voltada para a resolução de problemas.

Contudo, a educação ambiental brasileira perpassou sensíveis mudanças metodológicas e conceituais na última década - dado equivalente se comparado com as décadas anteriores e ao que está sendo realizado- existindo uma tendência progressiva de educação ambiental que abandona o perfil conservacionista de antes, reconhecendo a dimensão social do ambiente atualmente. Sobre essa tendência, Layrargues & Loureiro (2000) comentam que:

A praticada pela escola e movimentos sociais e teorizada pela academia tem apresentado uma tendência progressiva a relacionar o espaço escolar com a vida comunitária, reconhecendo a dimensão social do ambiente e começando a abandonar o perfil conservacionista das décadas anteriores. (LAYRARGUES & LOUREIRO, 2000, p.6)

Existe a constatação da instituição de um modelo de educação ambiental, que tem como enfoque a reflexão sobre o funcionamento dos sistemas sociais, em que este novo modelo, segundo Layrargues & Loureiro “busca cada vez mais uma aproximação mais realista e complexa da articulação da pauta ambiental com a social” (2000, p.6). Possivelmente, isso aconteceu devido à reflexão das ciências humanas e sociais a respeito da educação ambiental, pois perceberam sua necessidade e importância.

Sendo que agora, ela tornou-se uma dimensão fundamental, com especificidade própria, em que o adjetivo ambiental é um substantivo. Conforme Layrargues, a educação ambiental é um vocábulo composto que envolve os campos ‘educação’ e ‘ambiente’ “O adjetivo ambiental designa uma classe de características que qualificam essa prática educativa, diante desta crise ambiental que ora o mundo vivencia” (2004, p. 7)

Assim, sua práxis aponta para uma tendência de diferenciação na medida em que se desenvolve e cresce, englobando ao mesmo tempo reflexões como miséria e exclusão social com poluição e degradação ambiental.

E essa tendência que começa a ser denominada como “crítica” ou “transformadora”, se isenta de pertencer à neutralidade política, por ir além das conseqüências da crise ambiental esperadas. Layrargues & Loureiro (2000) dissertam a respeito disso que:



...essa tendência da educação ambiental (...) deixa de ser politicamente neutra, ao ir além das conseqüências da crise ambiental. Consolida uma argumentação que legitima a crítica ao sistema capitalista, evidenciando que a causa da degradação ambiental é a mesma da degradação social. Discute os modos de apropriação e uso privado dos recursos naturais e humanos, aponta os conflitos socioambientais daí advindos, e identificando não apenas a degradação ambiental, mas também as vítimas dos seus efeitos. (LAYRARGUES & LOUREIRO, 2000, p.6)

A partir desta ordem, a educação ambiental assume uma nova identidade, porém agora sendo impossível de se referir a somente um modelo de educação ambiental sem qualificá-la. Pois, com a diversidade de nomenclaturas assumidas atualmente, necessita-se re-significar os sentidos identitários e fundamentais dos diferentes posicionamentos.

Todas as diferentes concepções como, alfabetização ecológica; ecopedagogia; educação ambiental crítica, transformadora e emancipatória; educação no processo de gestão ambiental entre outras, buscam a construção da sustentabilidade e o Brasil tem realizado e protagonizado esse debate, abrigando uma enorme gama de discussões sobre as especificidades da educação nesta construção.

Enfim, re-nomear o vocábulo Educação Ambiental pode significar dois movimentos distintos: um refinamento conceitual baseado no amadurecimento teórico do campo e o estabelecimento de fronteiras identitárias segmentando diversas vertentes, (LAYRARGUES, 2004).



3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL TRANSFORMADORA


A educação ambiental transformadora apresenta-se como um conteúdo emancipatório, a partir de uma matriz que vê a educação como elemento de transformação social, em que as atividades humanas relacionadas ao fazer educativo provocam metamorfoses individuais e coletivas, locais e globais, bem como econômicas e culturais (Loureiro, 2004). Busca mostrar o significado e o sentido da revolução para que se concretize com base numa transformação integral do ser humano e das condições objetivas de existência. Segundo o grande teórico desta área Carlos Loureiro (2004):

Entendemos que falar em Educação Ambiental transformadora é afirmar a educação enquanto práxis social que contribui para o processo de construção de uma sociedade pautada por novos patamares civilizacionais e societários distintos dos atuais, na qual a sustentabilidade da vida, a atuação política consciente e a construção de uma ética que se afirme como ecológica sejam seu cerne. (Loureiro apud Loureiro, 2004, p. 90)

O diálogo, que é base na educação, apresenta-se numa perspectiva transformadora e popular de Educação Ambiental, porque só nos educamos/aprendemos dialogando em um conjunto de relações pelos quais nos definimos como seres sociais e planetários. Paulo Freire já justificava a visão de educação como um processo dialógico pelo qual nos educamos mutuamente mediados pelo mundo (LOUREIRO, 2004).

Com relação à mediação, o autor e educador Lev Vygotsky construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico-social. Para Molon, o sujeito é constituído e constituinte mediante as relações sociais e sobre esta questão nos esclarece:

Nesse sentido, o sujeito constituído e constituinte nas e pelas relações sociais, é o sujeito que se relaciona na e pela linguagem no campo das intersubjetividades. Desse modo, é na relação com os outros e por ela, é na linguagem e por ela que se constitui e é constituinte de outros sujeitos, no campo da intersubjetividade, configurado como o lugar do encontro e do confronto, e como palco de negociações das significações do mundo sócio-histórico. (MOLON, 2003, p.98)

Logo, a possibilidade de pensarmos em uma nova sociedade deve considerar que somos seres com culturas, linguagens, racionalidades e éticas (LOUREIRO, 2004), somos também a natureza e por inúmeras razões, entre elas a biológica, transformamos a mesma e isso se torna parte de um processo histórico- cultural. E a dialética aparece com um método que possibilita o diálogo crítico com outras abordagens do campo ‘ambiental’ que se utiliza de alguns pressupostos comuns na formulação de suas visões de mundo (LOUREIRO, 2004).

É importante destacar ainda que iniciar na Educação Ambiental significa começar a refletir sobre os problemas socioambientais a partir daqueles do nosso próprio cotidiano. Segundo Tristão “Trata-se de ampliar a função da escola, de simples transmissão de conhecimento para estabelecimento de uma comunicação crítica, criadora de um sistema imaginativo e transformador da cultura e do ser humano” (2002, p.173).

Conforme Loureiro (2004), o fazer educativo ambiental assume finalidades e realiza-se coerentemente com a tradição teórica crítica e emancipatória, pois entende que em seu processo de execução existem alguns princípios indispensáveis como, por exemplo, a educação mediadora de interesses e conflitos; os problemas ambientais mediados pela dimensão naturalista; a perspectiva crítica e histórica implica perceber as relações existentes entre educação, sociedade, trabalho e natureza; indissociabilidade entre teoria e prática no cotidiano; e a educação como emancipação.

Estes princípios se concretizam através de procedimentos participativos e dialógicos, que buscam englobar as múltiplas esferas da vida planetária, social e individual. Do contrário, não pode ser subentendido como transformador. Ou seja, é preciso compreender as categorias que permitem pensar a educação indissociável do processo de transformação social e de realização do sujeito em sociedade e no mundo.

A educação ambiental transformadora, enfim, pode ser apresentada em três eixos explicativos, segundo Carlos Loureiro, na edição da publicação realizada pela Diretoria de Educação Ambiental- DEA do Ministério do Meio Ambiente- MMA (2004):

- busca redefinir o modo como nos relacionamos conosco, com as demais espécies e com o planeta;

- tem na participação e do exercício da cidadania princípios para a definição da democracia e das relações mais adequadas, com relação à vida planetária;

- educar para transformar significa romper com as práticas sociais contrárias ao bem-estar público, à equidade e à solidariedade, estando articulada necessariamente às mudanças éticas que se fazem pertinentes.

O importante é transformar, seja pela atividade consciente ou pela relação teoria-prática. Pois, a educação é um momento da práxis social transformadora, onde não se pretende considerar que a perspectiva ‘ambiental’ possa revolucionar a sociedade, mas sim que sem ela será complicado assim o fazer.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação ambiental trata-se de um processo pedagógico participativo que pretende incutir uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, estendendo à sociedade a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais.

Por isso, a importância da construção de uma proposta de educação ambiental comprometida com o exercício da cidadania que exija a explicitação dos pressupostos que devem fundamentar uma prática/ práxis. Sobre isso, Loureiro (2004) comenta que educação ambiental é o meio educativo pelo qual se podem compreender de modo articulado as dimensões ambientais e sociais, problematizar a realidade, buscando raízes da crise civilizatória.

Mediante perspectivas históricas e críticas, a educação ambiental quer que as visões de mundo sejam discutidas, compreendidas, problematizadas e incorporadas.

Portanto, a Educação Ambiental tem a responsabilidade de construir uma nova ética ecológica a fim de problematizar valores vistos como absolutos e universais que visam o bem comum (LOUREIRO, 2004). Isso inclui agir conscientemente reconstruindo e modificando a realidade. Em fim, a educação ambiental precisa ser compreendida como um ato político.

Daniele Barros Jardim
Pedagoga e Mestranda em Educ. Ambiental - PPGEA/ FURG

Fonte: Educação Ambiental em Ação

Uma história de águas turbulentas

Rogério Daflon


A cidade do Rio de Janeiro tem uma longa história de erros quando o assunto é água. Em janeiro de 1502 se iniciou a linha do tempo de equívocos. Foi quando navegadores portugueses fitaram a Baía de Guanabara e, encantados, deduziram que se tratava de uma foz de um grande rio... Tal raciocínio desembocou na ideia de chamar a terra nova de Rio de Janeiro. Com 187 rios, 42 canais, 10 riachos, quatro arroios, duas valas, seis valões, segundo dados do Instituto Pereira Passos (IPP), a metrópole teria um bom potencial hídrico hoje, não fosse a poluição que vai com a correnteza. O curso d'água que deu nome ao povo do lugar é um exemplo emblemático desse desleixo. Batizado por indígenas em 1503, o Rio Carioca, outrora fonte de água potável e símbolo da Cidade Maravilhosa, acumula lixo e esgoto.

Diretor do Associação Brasileira de Recursos Hídricos e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Flávio Mascarenhas se impressiona com o triste destino do Rio Carioca.

- Ele deságua numa estação no Aterro do Flamengo e, na sequência, na Baía de Guanabara. Chega tão poluído à estação que não há como a maioria dessa carga poluidora deixar de ir para a Baía.

Mascarenhas explica que o Rio Carioca começa no Maciço da Tijuca, segue pelo bairro de Santa Teresa, passa por comunidades carentes e chega imundo em outro lugar histórico, o Largo do Boticário.

- Depois, o Rio Carioca corre subterrâneo por bairros como Laranjeiras, nos quais recebe ligações de esgoto de prédios e residências de classe média até chegar ao Aterro do Flamengo.

Gerente de Qualidade Ambiental do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Fátima Soares associa a poluição dos cursos d'água à ocupação desordenada na Região Metropolitana do Rio.

- Onde há um adensamento populacional grande, os rios estão num estado muito ruim.

BOCA BANGUELA
Fátima identifica os estragos da poluição dos rios na Baía de Guanabara, uma "boca banguela", segundo o antropólogo Claude Lévi-Strauss, que não viu nela beleza alguma. Ela destaca a costa oeste da Baía, que engloba o Centro do município, São João de Meriti e Nilópolis, para onde correm rios como Irajá, Acari, Pavuna e Iguaçu, além dos canais do Mangue e do Cunha.

- São os rios mais degradados. E chegaram a esse ponto com o aumento da ocupação desordenada. A velocidade da ocupação não foi acompanha por obras de infraestrutura sanitária - diz Fátima, acrescentando que, na costa leste da Baía, a situação também é triste, com rios como Alcântara e Canto do Rio que levam a poluição de São Gonçalo e Niterói para o mar.

Fátima ressalta que o nível de poluição da Baía cai quando suas águas recebem os rios da Área de Proteção Ambiental de Guapimirim.

- Ali a qualidade da água é melhor. São rios que deságuam na costa norte e nordeste da Baía, como o Magé, Guapi e Macacu.

A poluição dos cursos d'água do Grande do Rio exemplifica o que ocorre em outros grandes centros urbanos do país. Benedito Braga, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), diz que há uma equação que produz um resultado ruim para todo mundo.

- As companhias estaduais precisam equilibrar receita e despesa e, por isso, não investem nas regiões pobres dos centros urbanos em relação à coleta e ao tratamento de esgoto. Seria fundamental que o governo federal desse subsídios para que exista qualidade de água nos rios próximos a populações de baixa renda, mas sobretudo para diminuir doenças relativas à falta de saneamento básico. Haveria, com isso, uma diminuição da demanda por leitos hospitalares e, consequentemente, menos gastos com a saúde pública - afirma.

DIFÍCIL SOLUÇÃO
Diretora de Gestão das Águas e do Território do Inea, Rosa Formiga, diz que há um plano do governo estadual para coleta e tratamento de esgoto de todo o estado do Rio em dez anos.

- É um pacto de saneamento. Os recursos seriam da ordem de R$ 800 milhões por ano no período de dez anos. E eles preveem solucionar também outro grave problema do Rio: o lixo jogado em nossos rios. O pacto também terá de incluir educação ambiental, para que as pessoas tenham consciência do mal que é jogar lixo nos rios - afirma Rosa Formiga.

Secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos diz que o importante desse projeto é que ele foi feito para ser tocado a longo prazo.

- Após vários levantamentos, chegou-se à conclusão de que com R$ 8 bilhões em dez anos faz parte dos problemas de saneamento do estado estarão resolvidos. Não será uma tarefa fácil - calcula a secretária, que cita a Estação de Tratamento de Esgotos de Alegria, no Caju, inaugurada em janeiro deste ano, como um dos projetos que diminuiu a poluição.


Há outras ações em curso. Uma delas visa a resolver o problema das enchentes na Baixada Fluminense, no Grande Rio, e a recuperação ambiental das bacias dos rios Iguaçu, Botas e Sarapuí. Trata-se do Projeto Iguaçu, do governo do estado do Rio, com investimentos do PAC de cerca de R$ 270 milhões.

- O Projeto Iguaçu recuperará a região e a população poderá ficar livre das enchentes e ter áreas de lazer, que vão substituir as moradias irregulares ribeirinhas, nas quais as pessoas correm grandes riscos - promete o professor da Coppe/UFRJ Paulo Canedo, autor do projeto.

A maioria das obras de saneamento do Rio de Janeiro beneficiará a Baía de Guanabara. Se tais promessas deixarem de ser um sonho distante, a impressão do antropólogo Lévi-Strauss de que a Baía é um lugar horroroso vai cair no vazio. Feia ela não é. Na verdade, é maltratada.

Fonte:O Globo

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Técnicos concluem mapeamento do Aquífero Guarani

Por Redação da Agência Brasil


A ação dos agrotóxicos na lavoura e a falta de saneamento básico em regiões metropolitanas onde se localiza o Aquífero Guarani podem sobrecarregar o manancial, que tem cerca de 7.500 poços que abastecem centenas de cidades. Na região do centro da cidade de Ribeirão Preto, em 30 anos, o aquífero baixou 60 metros.

Esses foram alguns dos problemas constatados pelo mapeamento da área, uma das fases do Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aquífero Guarani, que começou em 2003 e teve os resultados apresentado na semana passada durante na 21ª Reunião do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), em Brasília.

Situado no subterrâneo dos territórios da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, com extensão total de 1.200.000 quilômetros quadrados, dos quais 840.000 no Brasil. O aquífero armazena cerca de 30 mil quilômetro cúbicos de água (dos quais apenas 2% podem ser aproveitados) e é considerado um dos maiores do mundo .

Segundo a geóloga Cláudia Lima, o fato de o nível ter baixado preocupa, mas não é grave. “Sempre que [se] explora, ele diminui, mas à medida que você vai fazendo uma gestão mais controlada, diminuindo o número de poços, acaba voltando para o equilíbrio”. Cláudia Lima está no projeto desde 2004.

Para Luiz Amore, secretário geral do projeto, o mapeamento foi a iniciativa mais importante. Ele disse também que a gestão do manancial deve ser cada vez mais local.

O projeto é realizado por técnicos do Brasil, do Paraguai, do Uruguai e da Argentina desde 2003. O objetivo do mapeamento foi ampliar os conhecimentos sobre o sistema, formular um marco legal, institucional e técnico de gestão conjunta entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, implementar uma rede de monitoramento permanente, um sistema de informações e elaborar o Plano Estratégico de Ações. O projeto é pioneiro na América Latina.

Outro resultado do estudo é a divisão de quatro projetos- pilotos de gestão; Rivera-Santana; Itapua, Concórdia Salto e Ribeirão Preto. O Brasil é responsável pela gestão de Rivera-Santana, em gestão conjunta com o Uruguai e de Ribeirão Preto.

A próxima etapa será a implantação do Plano Estratégico de Ações (PEA) que visa identificar quais são as ações necessárias para resolver as principais ameaças a este sistema aqüífero. "[O Aquífero Guarani] é uma das maiores reservas de água doce do mundo, é estratégia nossa preservar", afirmou o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

O programa apontou 11 eixos de ação a serem desenvolvidos em nível local, regional, nacional e transfronteiriço. Entre eles as que estão mais diretamente no âmbito do governo brasileiro são a coordenação da rede de monitoramento, o apoio ao desenvolvimento da gestão local e o desenvolvimento de programas técnico-científicos específicos para temas estratégicos. “Acho que o mais importante é a gestão no sentido de proteção, preservação e utilização racional [do aquífero] afirmou Cláudia Lima.

Foram investidos US$ 22 milhões no projeto, que foi implementado com recursos doados pelo Fundo para o Meio ambiente Mundial (GEF) e contrapartidas dos países, com o apoio do Banco Mundial e da Organização dos Estados Americanos.

A Coordenação Nacional do Projeto no Brasil esteve a cargo da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Meio Ambiente.

(Envolverde/Agência Brasil)

Fibra de crustáceos ajuda a despoluir água

Por Fabiana Vasconcelos e Camila Dumiense, da UnB




Substância retirou 100% dos corantes produzidos por indústrias têxteis. Pesquisa foi realizada no Instituto de Química da UnB.

Caranguejos e camarões têm na carapaça uma fibra aliada da proteção do meio ambiente. Pesquisas realizadas na Universidade de Brasília apontam que a quitina - principal componente do esqueleto externo de crustáceos - ajuda a despoluir a água processada por indústrias têxteis, setor responsável por cerca de 3,5% do Produto Interno Bruto brasileiro.

A equipe do Instituto de Química da UnB descobriu que a quitosana, um polímero natural obtido a partir da quitina, limpa 100% de amostras de água contaminadas pelo corante índigo, um pigmento azul muito utilizado por fábricas de jeans. Isso ocorre porque a quitosana tem a capacidade de absorver a tinta.

A "limpeza" da água ocorre com a utilização da quitosana associada a semicondutores, como o óxido de zinco. Outro teste de laboratório revelou que essa mistura, quando submetida à radiação ultravioleta, degrada o corante em gás carbônico e água. A equipe da UnB conseguiu reproduzir o experimento a partir de um fotorreator construído pela própria universidade.

“O óxido de zinco é sensível à luz. Desde que se coloque iluminação ultravioleta adequada, os elétrons vão ser promovidos para fazer a reação e destruir os contaminantes”, explica o doutorando do Instituto de Química Jonas Pertusatti. A UnB é pioneira nesse tipo de técnica.

FÁBRICAS- Os testes ainda estão em escala de laboratório, mas podem representar uma nova forma de tratar poluentes. Hoje, a maioria das fábricas filtram o corante, e o material é guardado em estaleiros após atingir o estado sólido. Além de as empresas terem de pagar pelo armazenamento da substância, a prática aumenta o passivo ambiental – responsabilidade social da empresa com aspectos ambientais.

Pela técnica desenvolvida na UnB, as indústrias vão conseguir retirar a tinta da água e, em vez de transformar o resíduo em blocos, poderão degradá-lo em água e gás carbônico. A quitosana pode, ainda, ser reutilizada. Estudos anteriores, com outras características, mostraram possibilidade de reuso em até 15 vezes. O artigo científico a esse respeito esteve entre os mais acessados no Journal of Colloid and Interface, em 2006.

BENEFÍCIOS- A descoberta reduz o custo do processo de degradação dos contaminantes. Algumas empresas utilizam apenas óxidos metálicos para limpar a água. Com a adição da quitosana, as indústrias poderão economizar, uma vez que o preço dessa substância é bem menor do que o dos semicondutores. “Queríamos um material de baixo custo e que apresentasse bons resultados”, afirma o professor Alexandre Gustavo Soares do Prado, coordenador dos estudos.

O uso da quitosana barateia o processo e ainda oferece uma alternativa de renda aos catadores de caranguejo. “A casca do caranguejo, na maioria das vezes, é jogada fora. Ao utilizar a quitosana para degradar contaminantes, aproveitamos algo que acaba virando lixo”, afirma o professor Alexandre Gustavo. “É uma forma de usar uma tecnologia nacional a favor da população”, diz.

O presidente da Associação dos Catadores de Caranguejo do Povoado Brejão, em Sergipe, José Fausto, diz nunca ter imaginado esse uso para o crustáceo e acredita que uma demanda maior seria positiva. “A comunidade sobrevive do caranguejo. De novembro a janeiro, quando a oferta é alta, o preço cai e nós trabalhamos três dias por semana para não acumular mercadoria”, diz. “Seria excelente, porque teríamos mais pessoas trabalhando e tendo seu sustento”. Hoje, a comunidade vende, por semana, cerca de 3 mil animais a R$ 0,60 cada.

Responsável pela área de Tecnologia da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Sílvio Napoli, diz que a inovação seria bem-vinda. “Quem trabalha precisa ver funcionar na prática. Desde que tivesse um custo mais baixo, por que não usar?”, diz. “Nós, os produtores, temos uma verdadeira obsessão pela conservação da natureza”.

A substância da carapaça de caranguejos é pesquisada pela UnB desde 2002. Enquanto os estudos prosseguem, a equipe avalia o uso da quitosana para liberação controlada de substâncias usando nanotecnologia. As análises darão mais um uso ambiental para a substância, atualmente matéria-prima em uma série de suplementos alimentares que aumentam a sensação de saciedade e reduzem o colesterol.

(Envolverde/UnB Agência)

ÁGUA TRATADA CONTÉM RESTOS DE CAFÉ E DE REMÉDIOS, ALERTAM CIENTISTAS

Pesquisadores detectaram substâncias perigosas na água potável.

Falta de legislação dificulta a resolução do problema.

Atenção: tem café na sua água. Café e mais: resíduos de colesterol, hormônios sexuais, produtos industriais e uma infinidade de substâncias microscópicas que passam pelo sistema de tratamento das cidades brasileiras. Isso não quer dizer que a água seja imprópria para o consumo. Segundo todos os padrões internacionais de potabilidade, a água que chega às torneiras dos brasileiros é limpa e está pronta para beber. O problema é que, até hoje, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não avaliou os riscos para a saúde desses resíduos.

O alerta sobre a presença desses compostos vem de cientistas no Brasil e no exterior e tem sido feito há cerca de dez anos. As companhias de saneamento, no entanto, afirmam que não podem fazer nada enquanto não existir uma legislação sobre o assunto. Essas empresas seguem recomendações do Ministério da Saúde, que, por sua vez, segue as orientações da Organização Mundial de Saúde.

Os pesquisadores da OMS ainda estão investigando o assunto. Segundo a assessoria de imprensa do órgão em Brasília, não existem informações sobre o tema no Brasil. Por enquanto nem ao menos se sabe se essas substâncias fazem ou não mal à saúde e em que concentrações poderia morar o perigo.

Veja como funcionam os tratamentos de água e esgoto

“Os cientistas começaram a pesquisar e a detectar pequenas quantidades de substâncias perigosas na água que sai da torneira, aquela que já passou por todo o sistema de tratamento e está pronta para o consumo da população”, explicou o chefe do departamento de desenvolvimento técnico e inovação da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Américo Sampaio, ao G1.

“Temos [esses] estudos, mas não temos um padrão”, afirma ele. “A água que entregamos na casa das pessoas obedece todos os padrões nacionais e internacionais de potabilidade. Ela é pronta para beber. Mas não temos ainda uma legislação sobre essas substâncias e sem ela não podemos fazer nada a respeito”, explica Sampaio.

Entenda

Toda vez que você toma uma medicação, parte dela é absorvida pelo seu organismo e parte é expelida, através da urina e das fezes. Isso não desaparece magicamente no ar. Vai até o sistema de esgoto, passa pelo tratamento e é liberado no ambiente. Depois, é capturado novamente pelo sistema de tratamento de água, passa por tudo e volta para a torneira da sua casa. Ou seja, parte (uma parte muito reduzida, é claro) do remédio para dor de cabeça que você tomou hoje pode voltar para sua torneira daqui alguns dias.

É preciso explicar que estamos falando de uma parte muito reduzida, mas muito reduzida mesmo, do remédio, café e afins. “Estamos falando de uma concentração muito pequena”, explica o professor Ivanildo Hespanhol, diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra) da Universidade de São Paulo (USP). Mas não faz mal? Aí é que fica a interrogação.

É uma concentração muito pequena, mas que está aumentando ano a ano, graças ao crescimento da população brasileira. E enquanto a Organização Mundial de Saúde não tiver o que os cientistas chamam de “padrão de potabilidade de fármacos” – ou seja, uma definição do que seria considerada uma quantidade segura de remédios na água – as companhias não sabem como agir.

“Nós estamos em um nível de pesquisa muito inicial sobre isso, ainda restrito às universidades”, explica Daniel Cerqueira, analista de controle de qualidade da Companhia de Saneamento de Minas Gerais, a Copasa. “Que ocorre essa contaminação, ocorre. Mas ainda não sabemos nem mesmo qual a metodologia mais adequada para investigar esse problema”, explica.

Carlos Eduardo Pierin, gerente de controle de qualidade da Sanepar, a Companhia de Saneamento do Paraná, concorda. “Seguimos a portaria do Ministério da Saúde. Se a OMS ainda não se manifestou, não temos nem como saber onde procurar. Precisamos de mais estudos e para isso contamos com o apoio das universidades. É assim que a coisa funciona”, diz Pierin.

A companhia do Rio Grande do Sul, Corsan, diz que não tem dados sobre o assunto, mas que está se preparando para mudanças futuras na legislação. "Não estamos alheios à possibilidade de presença destes na água e seguimos nos equipando para, em breve, desenvolvermos tecnologia para efetuar estas determinações", afirma o engenheiro da empresa, Ivan Lautert Oliveira.

É o mesmo que afirma o diretor de tecnologia da Sabesp, Marcelo Salles. "A Sabesp acompanha os estudos da comunidade científica nacional e internacional e cumpre os padrões da OMS", declara. "A empresa aguarda o resultado dos estudos que estão em andamento."

Estudos

As universidades estão atrás dos dados que as companhias precisam. O professor Wilson Jardim, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estuda a presença dessas substâncias tanto antes quanto depois do tratamento de água nas bacias que servem a cidade do interior paulista. Seu estudo encontrou resíduos de produtos industriais (dietilftalato, dibutilftalato e bisfenol A), de cafeína, de colesterol e de hormônios sexuais (estradiol, etinilestradiol e progesterona) na água tratada. O mesmo seria encontrado em outras cidades do país, acredita ele. “Fizemos o estudo em Campinas, porque estamos na Unicamp. Mas a mesma coisa poderia ser vista em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília ou qualquer outra cidade”, afirma Jardim. “O que você procurar, você acha”, diz o cientista.

A preocupação dos pesquisadores é maior quando falamos dos hormônios. Por exemplo, aqueles que existem em comprimidos anticoncepcionais, que são expelidos pelo organismo de mulheres e liberados na água todos os dias.

Por enquanto não se sabe se isso pode causar algum problema à saúde humana, mas os hormônios em excesso já estão alterando o desenvolvimento de espécies de plantas e animais nas represas. “Temos encontrado peixes e sapos hermafroditas nas represas de São Paulo e acreditamos que isso tenha a ver com o excesso de hormônio presente na água”, explica o professor Hespanhol, da USP.

Os hormônios que bebemos não são reconhecidos como “inimigos” pelo nosso organismo. Na verdade, ele acredita que as substâncias têm todo o direito de estarem ali. O excesso atrapalha o funcionamento de todo o corpo, podendo levar a problemas de fertilidade tanto em homens quanto em mulheres. Além disso, o excesso do hormônio feminino estrogênio, comum em muitos tratamentos médicos e contraceptivos, está ligado a um risco maior de desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como o de mama.

Tratamento

Se a má notícia é que não se sabe o quanto é preciso baixar o nível desses fármacos, a boa é que quando se souber, já será possível retirá-los da água. De acordo com Sampaio, da Sabesp, o primeiro passo para reduzir essa contaminação é melhorar o tratamento de água e esgoto que já está em operação. O professor Wilson Jardim, concorda. “A curto prazo devemos atualizar a tecnologia das estações de tratamento para limpar da melhor maneira possível o esgoto bruto que recebemos, e, assim, reduzir ao máximo a presença dessas substâncias”, afirma o cientista.

O segundo é mais complexo e exige uma mudança “política”, para o pesquisador da Unicamp. “O Brasil precisa começar a tratar, de fato, o esgoto. Nosso saneamento básico é extremamente deficiente. Chega a ser vexatório o que se investe em saneamento no nosso país”, diz o pesquisador.

Ivanildo Hespanhol, da USP, tem uma proposta para modernizar o tratamento de água brasileiro. No Cirra, sua equipe desenvolve membranas que prometem melhorar a qualidade da água, com o mesmo custo e ocupando menos espaço. “Se a gente substituísse o sistema atual pelo de membranas, ele ocuparia uma área de um quarto da original. Isso é extremamente importante em grandes centros urbanos, que precisam de espaço”, explica o pesquisador.

Para retirar os hormônios, os remédios e outros compostos orgânicos da água, a saída seria o uso de carvão ativado. “Nós temos a tecnologia e as companhias de saneamento precisam começar a aplicar”, afirma Hespanhol.

Fósforo

Se os fármacos assustam na água tratada, na água não-tratada o inimigo é o fósforo. Essa substância é um contaminante importante que é liberado no sistema de esgoto pelas fezes humanas. Uma vez na água, ele age como um “supernutriente” para microorganismos e algas na água. Não é a toa que o fósforo é um dos componentes dos fertilizantes agrícolas. “Sol, calor, luz e fósforo é o paraíso das algas”, explica Américo Sampaio.

O que sobra após o tratamento do esgoto é liberado nas águas. Se ocorrer em excesso, as algas se multiplicam perigosamente, entupindo canos nas represas e, no caso das algas chamadas de “cianofíceas”, que são tóxicas, colocando em risco a saúde humana.

A lei brasileira exige que as companhias de saneamento monitorem o nível de fósforo em todas as suas represas e rios. Mas embora existam métodos para retirar essa substância da água, as companhias de saneamento do país não os utilizam. “O Brasil faz apenas as etapas primária e secundária de tratamento de esgoto, que retiram o lixo sólido e as partículas solúveis [respectivamente]. A etapa terciária, que elimina o fósforo, praticamente não existe”, explica Iara Chao, que trabalha na Sabesp e desenvolveu uma nova forma de retirar essa substância da água, em seu mestrado feito na Universidade de São Paulo.

Nessa nova técnica, a cientista usa o lodo que é acumulado e jogado fora após o tratamento de esgoto. Esse lodo é rico em sulfato de alumínio, que reage com o fósforo e permite que ele seja retirado. “É um resíduo que é liberado no meio ambiente e que pode ajudar a eliminar o fósforo nas represas. Com esse método, a gente resolve dois problemas: remove o fósforo e recicla o lodo”, afirma Chao.

Fonte:saneamentoweb.

Quais são os projetos de despoluição do Rio Tietê e da Baía de Guanabara?

Para que as águas voltem a ser limpas, o mais importante é impedir que o esgoto seja despejado nos rios.

O Tietê, com seus 1.150 km de extensão, é o maior rio do estado de São Paulo. Mas, na região metropolitana, é um dos mais poluídos e está completamente morto. O que causou tanto estrago foi a expansão desordenada da cidade e o consequente despejo de esgotos residenciais e industriais diretamente no rio. Para limpar a bacia hidrográfica que corta a cidade paulistana, seria necessário melhorar o sistema de canalização da região. Com esse objetivo, em 1992, foi criado o Projeto Tietê, administrado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Durante a primeira etapa do programa, que se estendeu até 2000, foram construídos três estações de tratamento de água (que se somaram às duas já existentes), além de tubulações para a coleta e o transporte de dejetos. Segundo a Sabesp, com o fim dessa primeira fase de despoluição, o índice de coleta de esgotos na região metropolitana de São Paulo passou de 63% para 80% e o índice de tratamento aumentou de 20% para 62%.

Entre 2002 e 2009, na segunda etapa do projeto, houve um aumento da rede de coletores (tubos que recolhem o esgoto) e interceptores (tubulações que ficam na margem dos rios e impedem que o lixo seja despejado nele). Hoje, a região metropolitana tem 84% do esgoto coletado e, desses, 70% é tratado. A partir do segundo semestre deste ano, começa a captação de recursos para a terceira fase do plano, prevista para terminar em 2015 e aumentar ainda mais o índice de água tratada em São Paulo.

Não há previsão para que 100% do esgoto produzido na metrópole seja tratado, já que nem mesmo nos países mais desenvolvidos isso acontece. No Reino Unido, por exemplo, o índice está em 92%. Também é um erro comparar o projeto de despoluição do Tietê ao que ocorreu em rios como o Sena (na França) e o Tâmisa (na Inglaterra). "O projeto de limpeza do Sena durou mais de 70 anos. Também tem que se levar em conta que a população da cidade de São Paulo é de 19 milhões de habitantes, contra os 8 milhões de Paris. Além disso, os dois rios são muito diferentes. A vasão do francês é de 50 mil litros por segundo e o do Tietê é de apenas 34", explica Carlos Eduardo Carrela, superintendente de Gestão de Projetos Especiais da Sabesp. A vazão é o volume de água que corre pelo rio a cada segundo e, quanto maior, mais fácil seu processo de auto-limpeza. Por causa de todos esses fatores, é impossível prever se um dia será possível ver peixes na parte do Tietê que corta a cidade de São Paulo. "O problema é que há muitas ligações clandestinas de esgoto, que não passam pelos coletores e vão direto para o rio ou para as galerias pluviais. É preciso que a população se conscientize do seu papel", afirma Carlos Eduardo Carrela. O superintendente ainda explica que, se o rio parar de receber sujeira, a despoluição acontece naturalmente, por meio do mecanismo de auto-limpeza, que dissolve os poluentes e oxigena a água. Apesar da dificuldade em despoluir a região metropolitana, no interior do estado ela já pode ser percebida. Antes do início do Projeto Tietê, o rio estava morto até na região de Barra Bonita, a cerca de 250 km da capital. Depois do fim da primeira etapa de limpeza, a mancha de poluição recuou 120 km e peixes voltaram a aparecer na barragem da cidade. "Com o fim da segunda fase, esperamos que daqui a um ou dois anos a mancha recue mais 40 km, até a região de Salto, a 100 km da capital", diz Carrela.

Já na segunda maior capital do Brasil, o Rio de Janeiro, a luta é para despoluir a Baía de Guanabara. Desde 1994, a Companhia de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE) administra o Projeto de Despoluição da Baía de Guanabara. O desafio é limpá-la e fazer com que os vários animais que desapareceram voltem a habitar a região. O estuário tem 346 m2 e engloba 15 municípios. Pelo menos 35 rios deságuam nele e, segundo dados do CEDAE, recebe esgoto de 10 milhões de pessoas e de 12 mil indústrias. Ou seja, para que a despoluição aconteça, primeiro é necessário que o lixo deixe de chegar a todos esses rios. Para tanto, foram construídas três estações de tratamento de água e quatro outras foram ampliadas. Também foram feitos coletores e receptores de esgoto e o plano é que essa rede seja aumentada. Porém, a CEDAE não tem dados sobre quais os índices de esgoto coletado e tratado em toda a região que cerca a Baía de Guanabara. "Não é possível ter um dado preciso sobre o grau de eficiência na despoluição, pois há muitos municípios e alguns não estão incluídos no escopo do programa", afirma Robson Coutinho, chefe da Coordenação de Análise de Projetos e Cadastro Técnico do Projeto de Despoluição da Baía de Guanabara.

Fonte: Revista Nova Escola